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Saiba Mais: Incêndios Rurais – Florestas.pt

Faz sentido “acabar com o fogo”?

Não faz sentido “acabar com o fogo”. O fogo esteve e estará sempre presente nos ecossistemas com clima mediterrânico temperado (com período seco no verão), tal como o que existe em Portugal continental.

São de salientar os registos fossilizados de carvão vegetal que indicam a existência de fogos desde que existem plantas terrestres, há 420 milhões de anos. Estes registos sugerem que o fogo teve um efeito importante na evolução da flora e da fauna de muitos ecossistemas.

No que concerne à região mediterrânica, a vegetação existente é também resultado da ação repetida do fogo e, ao contrário das opiniões que erradamente se tornaram comuns, o fogo é parte integrante e necessária à sua manutenção. Sendo parte integrante e estruturante dos ecossistemas, o importante não é acabar com o fogo, mas garantir que este tenha baixa intensidade, resultando em impactes menores. Resumidamente: é preciso prevenir os incêndios de alta intensidade e gerir aqueles de baixa intensidade.

Como sublinha a Greenpeace, “os incêndios de baixa intensidade são necessários em certos ecossistemas”. São estes que permitem reduzir a vegetação e prevenir maiores impactes. A supressão de todos os incêndios leva ao aumento da carga de vegetação combustível e, dessa forma, ao aumento da probabilidade de ocorrência de incêndios com elevada intensidade e efeitos devastadores, acima da capacidade de extinção, independentemente dos meios de combate disponíveis.

Como podemos reduzir o número e a severidade dos incêndios rurais em Portugal?

De maneira a reduzir o número e severidade dos incêndios rurais, as recomendações dos especialistas sobre aspectos de prevenção, gestão e combate a melhorar em Portugal são as seguintes:

– A redução do número elevado de ignições com origem humana, em particular as negligentes e acidentais, com especial atenção nos dias em que se preveem condições meteorológicas propícias ao desenvolvimento de grandes incêndios;
– A criação de condições que viabilizem o aumento da área florestal sob gestão responsável, para reduzir a vulnerabilidade da floresta;
– O desenvolvimento de um sistema estrutural de defesa contra incêndios rurais, composto por faixas e mosaicos de gestão de combustível em áreas críticas, assim como uma rede viária florestal eficaz e uma rede de pontos de água distribuídos estrategicamente;
– A melhoria da capacidade estratégica de combate, através da implementação de sistemas de informação que permitam definir as melhores técnicas a implementar em cada situação e aproveitar o esforço aplicado na prevenção, reduzindo a severidade dos incêndios rurais;
– A disponibilização de recursos humanos e materiais capacitados para o espaço florestal: técnicas de combate indireto (por exemplo, criar aceiros com equipamento pesado e usar um contrafogo para limpar a vegetação) e a redução dos reacendimentos através do aumento da eficácia do rescaldo e vigilância.

O que são as “cabras sapadoras” e qual o seu papel na prevenção de incêndios?

As “cabras sapadoras” são rebanhos mantidos com o propósito de prevenir incêndios florestais a partir de uma cuidada gestão de pastoreio, com a consequente gestão de combustíveis (vegetação), habitat e paisagem. Numa tentativa de viabilizar o controlo dos matos na floresta, diversas empresas estão a oferecer este tipo de serviços de pastoreio dirigido, como por exemplo:

– A 5ª Lógica é um projeto familiar existente no Sistelo (Parque Nacional Peneda-Gerês) de pastoreio planeado para a prevenção de incêndios e gestão da paisagem e biodiversidade.
– A Caprinus & Companhia utiliza cabras no seu modelo de gestão sustentável, defendendo benefícios à escala ambiental, económica e social. A utilização de animais é feita a um ritmo que garante a manutenção da biodiversidade e produtividade dos diferentes locais.
– Um projeto anterior, levado a cabo pela empresa Back to Basic e pela Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, comprovou a viabilidade económica desta solução na manutenção da limpeza de terrenos: durante três meses, 26 cabras consumiram mais de 12 toneladas de mato.

Em Espanha, um projeto similar de “cabras sapadoras”, Red de Áreas Pasto-Cortafuegos de Andalucía (RAPCA), paga entre 42€ e 90€ por hectare de pastoreio em zonas corta-fogo de florestas públicas. O preço varia consoante a dificuldade associada à zona e o cumprimento dos objetivos estabelecidos de redução de biomassa: consumo de 90% do crescimento anual de herbáceas e 75% do crescimento anual de arbustos. Ainda no país vizinho, a iniciativa Fire Flocks leva rebanhos a pastar em zonas florestais predefinidas para controlo da vegetação. Os produtos resultantes desta atividade pastorícia têm um selo que certifica os seus benefícios e o apoio prestado na prevenção de incêndios.

O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.


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