A albufeira de Alqueva já transferiu este ano 100 milhões de metros cúbicos de água para outras sete barragens, nos distritos de Beja, Évora e Setúbal, devido à seca, revelou hoje o presidente da empresa gestora.
Estes 100 milhões de metros cúbicos é o total transferido até ao final de agosto, avançou à agência Lusa o presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), José Pedro Salema.
Segundo o responsável, o volume de água transferido este ano para outras barragens mais do que triplicou em comparação com o ano passado, pois, em 2021, tinham sido fornecidos “cerca de 30 milhões” de metros cúbicos.
A água da barragem do Alqueva já chegou este ano às albufeiras de Odivelas (Ferreira do Alentejo), Roxo (Aljustrel), Fonte Serne (Santiago do Cacém), Morgavel (Sines), Vigia (Redondo), Monte Novo (Évora) e Enxoé (Serpa).
Além destas albufeiras, o Alqueva também forneceu água para o canal denominado Alto-Sado, que tem origem na barragem do Monte da Rocha, situado no concelho de Ourique, distrito de Beja, mas que serve a zona do litoral alentejano.
A barragem do Roxo, cuja água serve para rega e abastecimento público às populações dos concelhos de Aljustrel e Beja, foi a que recebeu maior volume de água, num total de 55,5 milhões de metros cúbicos.
Mas este volume inclui a água que passou pelo Roxo com destino aos sistemas geridos pela Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado (ARBCAS) e pela empresa Águas de Santo André (AdSA), nomeadamente o canal Alto-Sado e as barragens de Fonte Serne e Morgavel.
Seguem-se Odivelas, com 35 milhões de metros cúbicos de água, Morgavel, com 7,3 milhões, Fonte Serne, com 2,8 milhões, Vigia, com dois milhões, Monte Novo, com 1,3 milhões, e Enxoé, com 1,2 milhões, enquanto o canal Alto-Sado recebeu nove milhões.
O presidente da EDIA lembrou que, anteriormente, no Alentejo, “não havia campanha de rega todos os anos, porque, em anos de seca, as barragens não tinham água para disponibilizar”, mas, com a ligação destes sistemas a Alqueva, “esta lacuna foi suprida”.
“Num ano como este, em que as barragens começaram o ano relativamente baixas e em que não existiam condições para uma campanha de rega, os operadores destes sistemas pedem-nos com antecedência e nós fornecemos água”, assinalou.
Salientando que “se não existisse Alqueva, não havia campanha de rega” este ano na região, José Pedro Salema vincou que a albufeira também dá “uma garantia de água para o abastecimento público do Alentejo”.
“Évora e Beja, as duas maiores cidades do Alentejo, este ano, estão a beber água e a tomar banho com água 100% de Alqueva”, sublinhou.
Por outro lado, de acordo com o responsável, a área agrícola servida pelo Alqueva está “a gastar mais água”, já que este ano está a ser “muito mais seco do que o ano passado”, além de haver mais culturas instaladas e outras mais desenvolvidas.
“Verificamos que, no ano passado, gastámos em torno dos 300 milhões de metros cúbicos e, este ano, já vamos nos 450 milhões”, disse, prevendo que, no final da atual campanha de rega, os gastos de água se cifrem “perto de 500 milhões de metros cúbicos”.
Questionado sobre a atual capacidade da albufeira de Alqueva, o presidente da EDIA reconheceu que o nível da água tem descido, mas considerou que, ainda assim, a barragem encontra-se com “uma situação bastante confortável”.
“Estamos em torno da cota 145”, o que significa que, em altura, “está sete metros abaixo do máximo” e também “15 metros acima do mínimo”, frisou.
A capacidade atual ronda os 65%, com um total de água útil de 1.700 milhões de metros cúbicos, acrescentou.
No final desta campanha de rega, “depois de um ano de seca”, a água do Alqueva “é suficiente, em teoria, para mais dois anos sem limitações”, vincou o presidente da EDIA.
O Alqueva, que celebrou em fevereiro deste ano os 20 anos do fecho das comportas da barragem e início do enchimento da albufeira, já rega 130.000 hectares e está a expandir-se para beneficiar mais 20.000.