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Seca: Educação é ferramenta mais importante na proteção das florestas contra incêndios

O investigador António Bento Gonçalves defendeu hoje a criação de um programa nacional de educação florestal como a medida “mais importante de todas” para prevenir os incêndios florestais, cada vez em maior número e dimensão devido às alterações climáticas.

“Temos de criar um programa nacional de educação florestal, que ensine e vá formando as pessoas, desde quem combate a quem legisla, passando por quem ensina, investiga, comunica e informa. Todos nós temos de aprender a respeitar a nova realidade [alterações climáticas], afirmou à agência Lusa o professor do Departamento de Geografia da Universidade do (UMinho).

António Bento Gonçalves, que é também investigador do Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade (CECS), defendeu “um programa nacional, não só de educação formal nas escolas, que é necessário, mas que acompanhe toda a sociedade”, apontando como exemplos, campanhas nos órgãos de comunicação social, ou a criação de clubes da floresta que “permitam a sensibilização, formação e a educação de todos os setores da sociedade”.

“Todos temos de perceber que não se pode continuar a usar o fogo de forma indiscriminada e todos têm de perceber, desde os políticos à pessoa que mora numa aldeia muito isolada, que não pode continuar a haver este desequilíbrio do país”, alertou o investigador que vai participar, no sábado, no 3.º Congresso Transfronteiriço de Meteorologia e Alterações Climáticas, que vai decorrer a partir das 09:30, no auditório Rio Lima, em Ponte de Lima.

Apontou a necessidade de “medidas muito urgentes, quer ao nível da legislação quer ao nível dos técnicos e cientistas, mas passando obrigatoriamente pela educação”.

“Além de disciplinas formais no primeiro, segundo, terceiro ciclos e secundário, campanhas de sensibilização para as diferentes populações e, que se faça uma coisa que até hoje nunca se fez. Há muitas campanhas, mas depois não se faz o devido acompanhamento e monitorização”, referiu.

“Não se fazendo a devida monitorização, não se percebem os erros e também não se percebem as mais-valias. Quando algo corre muito bem não replicamos, mas quando algo corre mal não sabemos, não corrigimos e continuamos a perpetuar os mesmos erros. Tem de haver monitorização sistemática do que vai fazendo”, insistiu o diretor da licenciatura em Proteção Civil e Gestão do Território (UMinho) e presidente da Associação Portuguesa de Geógrafos (APG).

António Bento Gonçalves vai centrar a sua comunicação “nos tempos de mudanças climáticas e, sobretudo, ou mais importante, nas mudanças globais que têm implicado mudanças no uso do solo e profundas alterações nas estruturas dos países”.

“Em Portugal em particular, temos um terrível desequilíbrio entre o Norte e o Sul e, sobretudo, entre o Litoral e o Interior. Neste contexto complicadíssimo, muito complexo, com as alterações climáticas, estamos a assistir a uma nova realidade dos incêndios florestais que se estão a tornar cada vez maiores, mais destrutivos”, alertou.

Os fogos,adiantou, “não se concentram só no verão, mas também já na primavera e no outono, como em 2017”.

No Noroeste de Portugal, apontou, assiste-se “a uma redução da precipitação no mês de fevereiro e ao aumento da temperatura no mês de março”.

“Como todos os minhotos sabem, é o período, por excelência, em que no mundo rural se fazem as queimas e queimadas. Se vamos ter menos precipitação em fevereiro, e temperaturas mais elevadas em março, temos uma situação perfeita para ter cada vez mais incêndios florestais, como infelizmente Viana do Castelo [distrito] é um bom exemplo. Nos últimos dias têm sofrido esse flagelo. Os próprios bombeiros alertaram para o facto de estarem a ocorrer demasiados incêndios”, disse.

O investigador exortou à reflexão “urgente” por considerar que, desde 2017, “os atuais sistemas de defesa da floresta contra incêndios não têm capacidade para a nova realidade”.

“Temos de repensar, quer em termos científicos, técnicos, de formação e de sensibilização da população. Todos os nossos sistemas de defesa, vigilância, deteção, combate não têm capacidade para esta nova realidade. Nem os nossos, nem os americanos, canadianos, nem os australianos. Têm de ser repensados muito rapidamente porque todas estas alterações não vão chegar. Já cá estão, e 2017 não se pode voltar a repetir de maneira nenhuma, mas há um sério risco que se repita. Não uma, não duas, não três, mas inúmeras vezes”, alertou.

O 3.º Congresso Transfronteiriço de Meteorologia e Alterações Climáticas é organizado pelo agrupamento de escolas do Freixo, Centro Formativo Cenfipe e Câmara Municipal de Ponte de Lima, e vai reunir especialistas de Portugal e da Galiza.


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