Mal refeita de uma pandemia que abalou economias inteiras e a tentar reparar à pressa os buracos deixados pela guerra na Ucrânia nos abastecimentos de energia, a Europa enfrenta agora a ameaça da seca extrema, com as suas bacias hidrográficas em sérias dificuldades, pondo em risco produções agrícolas e o transporte de bens.
Sem qualquer registo significativo de precipitação em mais de dois meses em toda a Europa ocidental, central e do sul, e nenhuma prevista para os tempos mais próximos, os meteorologistas admitem que esta poderá tornar-se na pior seca no continente em mais de 500 anos.“Ainda não analisámos a fundo o que se passa este ano porque ainda está a decorrer”, referiu Andrea Toreti, do Centro de Pesquisa Comum da Comissão Europeia. “Não houve outros eventos nos últimos 500 anos semelhantes à seca de 2018. Mas este ano, penso, está pior”.
A maioria da Inglaterra foi declarada em seca, França vive a sua pior seca de sempre e outros pesos pesados do setor agrícola europeu, como a Roménia, a Itália e a Alemanha, sofrem com baixa precipitação e altas temperaturas.
O impacto devastador em cursos de água vitais para a irrigação e a navegação do continente salta à vista, depois de um inverno e primavera anormalmente secos e das vagas de calor extremo do verão.
Quebras e mais quebras
Em Itália, o “rei dos rios”, o Pó, responsável por 30 a 40 por cento da produção agrícola italiana e afetado pela falta de chuva desde novembro, está dois metros abaixo do nível normal, levando a alertas de que o ano agrícola está praticamente perdido, sobretudo nos arrozais, milharais e na produção de amêijoas.
Por toda a Europa central e do sul é visível o impacto da seca. Até meados de agosto, o continente tinha perdido desde janeiro para as chamas mais de 660 mil hectares sendo a Península Ibérica a região mais afetada.
Em termos de área ardida, o ano já está a ser considerado um dos piores de sempre
As ondas de calor e o verão seco já estão a ditar quebras na produção de azeite, que pode por exemplo chegar aos 70 por cento nos olivais portugueses mais antigos, isto depois de um ano de produção recorde.Metade do azeite mundial é produzido em Espanha e um dos seus principais exportadores, a Acesur, que produz mais de 200 mil toneladas métricas e as envia para mais de 100 países, já avisou para um aumento de preços nos próximos meses, incluindo devido à escassez de óleo de girassol. Um problema que não deverá contudo afetar grandemente o nosso país devido às reservas nacionais.
Também o setor vitivinícola europeu irá registar grandes perdas de produção devido ao calor e à falta de água.
No Reino Unido, por exemplo, um produtor antevê um acréscimo de 10 por cento por garrafa no próximo ano, devido não só à falta de matéria-prima como à inflação e aos custos crescentes de energia, embalagem, entrega, materiais, salários e reciclagem.
“Tempo quente e falta de chuva tendem a baixar a produção […]