Maior albufeira do maior rio da Península Ibérica chegou ao verão com apenas 48% da capacidade ocupada
O rio Tejo tem 11 barragens, mas apenas duas ficam em Portugal e as maiores ficam em Espanha. A maior de todas – com mais capacidade de armazenamento de água – fica em Alcântara, a cerca de 15 quilómetros da fronteira portuguesa e é nessa albufeira que encontramos Rafael Pintado, dono de uma empresa de passeios de barco.
Rafael pega no telemóvel e mostra à reportagem da CNN Portugal o gráfico com os números oficiais do nível da barragem que revela como a descida foi demasiado rápida, algo “nunca visto”, em dois ou três meses de 2021, quando aumentou o preço no mercado da electricidade.
O Governo espanhol anunciou, na altura, uma investigação às empresas hidroeléctricas que exploram a água do rio para produzir energia, mas o mal já estava feito: o último outono/inverno não foi suficiente para recuperar os níveis de água do passado.
A albufeira de Alcântara chegou ao início deste verão de 2022 com apenas 48% da capacidade ocupada com água, algo que Rafael Pintado nunca tinha visto em décadas de navegação do rio: “Este era o nível normal em outubro ou novembro, antes de começarem as chuvas”.
Neste altura do ano a barragem devia ter 70% a 80% da capacidade ocupada, acrescenta Pedro Bernaldez, guia de pesca em Alcântara: “a albufeira é grande e visualmente não se nota muito, mas 48% é muito pouco para o início do verão”.
Agrava-se, segundo explica Pedro Bernaldez, a falta de qualidade da água, recordando que daqui para jusante, mesmo em Portugal, todo o Tejo está dependente da água desta enorme barragem.
“A água desceu quando subiu o preço da luz e não saímos mais daí. Tanto 2020 como 2021 tiveram bastante chuva, mas o problema é que não acumulámos”, refere Rafael Pintado, numa denúncia partilhada pelos ambientalistas espanhóis.
Pedro Brufao Curiel, professor de Direito Administrativo na Universidade da Estremadura e especialista em Direito da Água, refere que “em última instância, já perto de Portugal, o nível das albufeiras e da água depende de como está o mercado da electricidade em cada dia”.
Há cerca de um mês, em declarações citadas pelo Público, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) admitia que a seca que afecta Espanha é preocupante para Portugal. A mesma agência, tutelada pelo Governo, recusou, agora, dar uma entrevista à TVI/CNN Portugal, mas há um mês confirmava que a seca deve levar Madrid a reduzir os caudais que atravessam a fronteira em rios luso-espanhóis.