A produção agrícola cabo-verdiana de hortícolas e tubérculos caiu 40% de 2016 para 2020, período de seca no arquipélago, para cerca de 42 mil toneladas, segundo dados compilados hoje pela Lusa a partir do Anuário Estatístico.
De acordo com o documento, disponibilizado recentemente pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), esta produção agrícola em Cabo Verde passou de 70.926 toneladas em 2016 para 42.085 toneladas em 2020. A produção agrícola foi caindo todos os anos a partir de 2016, com o agravamento dos efeitos da seca, acumulando uma redução de 40,6% no período de quatro anos.
Entre as hortícolas, o tomate continua a liderar a produção em Cabo Verde, mas passou de 15.133 toneladas em 2016 para 12.474 toneladas em 2020, enquanto a batata lidera entre as raízes e tubérculos, caindo de 10.485 toneladas para 2.666 toneladas, neste caso em 2019, o último ano com dados disponíveis no anuário.
A produção total de frutas também caiu, para 7.807 toneladas em 2020, quando em 2016 tinha atingido as 15.840 toneladas, enquanto a cana-de-açúcar caiu de 28.375 toneladas para 22.940 toneladas produzidas.
A maior queda proporcional na agricultura cabo-verdiana registou-se na cultura de sequeiro, como milho e feijões – que é também a mais consumida -, que no ano agrícola (maio a abril) de 2016/2017 foi de 10.288 toneladas, tendo caído, estima o INE, para apenas 837 toneladas no ano agrícola de 2019/2020, embora com dados provisórios.
O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, mostrou-se recentemente convicto num bom ano agrícola em 2022/2023, face às chuvas que desde setembro se registam em várias ilhas do país, após quatro anos de seca.
“Vai haver um bom ano agrícola, até porque os técnicos já fizeram uma avaliação e nos lugares onde não for bom ano, vai ser um ano razoável, o que quer dizer que terá produção, pasto e água”, afirmou o chefe do Governo, em declarações durante uma visita ao interior da ilha de Santiago, em 13 de outubro.
Durante a visita aos campos agrícolas nos municípios de Santa Cruz, São Lourenço dos Órgãos, São Salvador do Mundo, Santa Catarina e Tarrafal, acompanhado do ministro da Agricultura e Ambiente, Gilberto Silva, o primeiro-ministro disse ter constatado um “cenário animador”.
“É uma bênção termos um país verde, não só aqui em Santiago, mas as outras ilhas também estão na mesma situação e perspetiva de um bom ano agrícola entre o razoável e bom”, afirmou Ulisses Correia e Silva.
Apesar de a situação não ser idêntica em todo o país, sublinhou que este será sempre um ano agrícola “muito melhor” do que os últimos quatro, de seca severa em praticamente todo o arquipélago.
De acordo com informação anterior do ministro da Agricultura, de forma geral, em matéria de produção de grãos, como milho e feijão, a situação em Cabo Verde já está garantida em zonas de altitude, mas ainda é preciso mais chuva nas zonas mais baixas, para permitir que a produção termine o seu ciclo.
As autoridades cabo-verdianas já tinham avançado em julho passado que esperavam que a campanha agrícola 2022/2023 fosse a mais chuvosa dos últimos cinco anos, com as previsões meteorológicas a não descartarem a ocorrência de eventos extremos.
“Todas as previsões e mesmo o que se vê (…), e o clima também, [estão] a mostrar que este ano poderá ser um ano melhor, pelo menos dos cinco últimos anos”, afirmou, em julho, a diretora-geral da Agricultura, Silvicultura e Pecuária de Cabo Verde, Eneida Rodrigues, na apresentação das medidas de preparação desta campanha agrícola.
Há praticamente quatro anos que Cabo Verde vive uma forte seca, o que tem vindo a condicionar a atividade agrícola em quase todo o arquipélago, cenário que o regresso da chuva pode ajudar a reverter nos próximos meses.
“Esperamos que sim. Tudo aponta para um ano, em termos pluviométricos, melhor do que o ano passado”, reforçou a responsável, baseando-se nas mais recentes previsões meteorológicas das autoridades nacionais e internacionais.
Desde 2017 que o país tem enfrentado sucessivos anos de seca, com consequente redução da produção agropecuária e do rendimento das famílias, especialmente no meio rural, contribuindo também para a deterioração da segurança alimentar e nutricional das famílias e para a redução da disponibilidade da água para o abastecimento público e para a agricultura irrigada.
Anteriormente, durante uma reunião restrita do dispositivo regional de prevenção e gestão das crises alimentares no Sahel e na África Ocidental, o ministro da Agricultura e Ambiente, Gilberto Silva, avançou que dados recentes estimaram que cerca de 107 mil pessoas se encontravam sob pressão em termos alimentares e cerca de 30 mil em situação de insegurança alimentar em Cabo Verde.
Em fevereiro último, o Governo declarou situação de calamidade no país até 31 de outubro, devido aos maus resultados do ano agrícola, e anunciou medidas preventivas e especiais.
Para a campanha agrícola 2022/2023, nomeadamente no apoio aos produtores na aquisição de sementes ou com medidas já em curso de combate e controlo de pragas, entre outras, o orçamento do Ministério da Agricultura e Ambiente de Cabo Verde ronda os 64,9 milhões de escudos (600 mil euros).