A Segurança Alimentar surge actualmente como uma das principais preocupações da Indústria Alimentar. Tal decorre da grande preocupação do consumidor com os alimentos que come actualmente e do receio que estes não sejam seguros para a saúde humana, ou seja que não sejam inóquos. E, no entanto, se atentarmos ao estado sanitário dos alimentos e aos cuidados e cautelas a que são sujeitos actualmente aquando do seu fabrico, muito maior nos dias de hoje, tal preocupação aparece como um paradoxo.
Esta maior preocupação com os alimentos só pode ser entendida se tivermos em atenção, quer a evolução da sociedade, quer a maior sofisticação na produção de alimentos, ocorrida nos últimos anos.
Evolução da Sociedade
Nas últimas décadas a sociedade urbanizou-se, havendo uma cada vez maior concentração da população nos centros urbanos, sem qualquer ligação com a actividade agrícola. Este afastamento do mundo rural, não só provoca um desconhecimento do ciclo da produção primária, matéria prima dos alimentos, como deífica também artificialmente esta vida “passada”, ficando a noção do que o “antigamente é que era bom…”
Para além de ser mais urbana a vida moderna tem muito menos tempo para confeccionar os alimentos. Enquanto há 30 anos uma família gastava em média 2 horas para confeccionar uma refeição, actualmente a média não ultrapassa meia hora, havendo estratos da população que não ocupam mais de 15 minutos.
Outra característica da sociedade moderna é a sua grande sedentarização e a consequente maior preocupação com uma dieta alimentar diferente e mais adaptada a esta vida sedentária e com pouco exercício físico.
Foram estas evoluções da sociedade que provocaram uma nova relação com o alimento, havendo simultaneamente uma maior preocupação com a composição nutricional do alimento e um maior afastamento ou desconhecimento do seu processo de fabrico, o que o torna mais sensível abrindo caminho muitas vezes a receios infundados.
A resposta da Indústria
A estas evoluções e preocupações por parte do consumidor, a indústria alimentar responde produzindo alimentos mais adaptados às novas exigências e limitações de tempo deste mesmo consumidor e, simultaneamente, mais sofisticados na sua composição. Assistimos assim a uma rápida transformação da indústria alimentar nos últimos anos, sector que tradicionalmente era uma indústria de alterações bastante lentas. Naturalmente que tais transformações não se deveram apenas às alterações dos gostos consumidores. A indústria alimentar também tem de responder aos desafios da globalização e aumento da concorrência, beneficiando, por outro lado das inovações e avanços da tecnologia e biotecnologia.
Por outro lado ainda, o consumidor tem uma atitude dupla e por vezes paradoxa face a estas evoluções. A sua “vida sem tempo” leva-o a optar por produtos que beneficiam das vantagens das inovações tecnológicas. Referimo-nos a produtos de preparação rápida, com doses de dimensão adequada e de conservação mais longa. Simultaneamente mostram uma preferência a produtos ligados a regiões e culturas tradicionais, sem qualquer transformação.
É a esta dupla atitude, nem sempre muito compatível que o produtor de alimentos tem de responder, assegurando simultaneamente níveis elevados de inoquidade.
A Segurança Alimentar no Princípio do Séc. XXI
A evolução atrás descrita da sociedade, as maiores preocupações com a alimentação e as crises alimentares da segunda metade dos anos noventa, especialmente a BSE e as Dioxinas, justificam a actual importância acordada à Segurança Alimentar, que se tornou o principal tema de debate dos primeiros anos do século XXI.
São inúmeros os Seminários sobre este tema, sempre com grande interesse por parte do público, como o testemunham os recentemente realizados durante o mês de Maio pelo ISA e pelo IPATIPU.
Por seu lado a indústria, promoveu Campanhas de Comunicação sobre Segurança Alimentar onde abriu as portas das suas indústrias, e comunicou a dinamização a adopção de Códigos de Boas Prácticas e de sistemas de autocontrole, pelas suas empresas.
Os Governos e a União Européia promoveram um grande debate sobre a maneira de aumentar os níveis de Segurança Alimentar e restaurar a confiança dos consumidores, tendo posteriormente criado, ou em vias de criar Agências Alimentares que prosseguem precisamente estes objectivos.
A Reconquista da Confiança do Consumidor
Foi sendo cada vez mais claro, quer à indústria, quer aos governos que não bastava garantir níveis elevados de Segurança Alimentar, senão se conseguisse comunicar bem com o consumidor transmitindo-lhe correctamente as informações pertinentes, e assim reconquistar a sua confiança.
Este esforço de uma boa comunicação tem, por outro lado, de ser complementado com a existência de uma Entidade Científica credível capaz de analisar cientificamente os perigos que se colocam, ou podem colocar para a saúde pública e capaz de ser aceite pelo consumidor nos seus pareceres.
Segurança Alimentar e Qualidade
Muitas vezes se tem falado de Segurança Alimentar e Qualidade, apresentando-os como conceitos similares ou mesmo equivalentes.
Qualidade é, no entanto, muito mais do que a inoquidade dos alimentos, a que vulgarmente se chama Segurança Alimentar, não podendo, por outro lado existir sem ela. Sendo a Qualidade o conjunto de atributos de um alimento que o tornam preferido na sua escolha, por parte do consumidor, integra naturalmente a exigência da sua inoquidade, condição à partida de rejeição, caso não se confirme.
No entanto esta inoquidade, por si só não garante a opção do consumidor. De facto um alimento seguro ou inóquo, se não tiver bom sabor e não responder às qualidades nutricionais, de embalamento, conservação, ou outras que dele espera o consumidor, dificilmente terá a preferência deste último.
Há pois que promover a Qualidade, de forma a que a oferta do mercado corresponda ao que mais preferem os consumidores sem, no entanto, confundir estes dois conceitos. O verdadeiro desafio que se coloca a todos nós, consumidores ou produtores é a procura de uma Qualidade cada vez mais superior.
FIPA – Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares