Publicado em 8 de Maio, 2025
O Castelo de Serpa recebe a 9 e 10 de maio um evento que visa promover o vinho e os produtores do concelho. A terceira edição dos Vinhos no Castelo é uma iniciativa da Câmara de Serpa, dedicado à promoção da excelência vitivinícola e consiste numa mostra dos melhores vinhos produzidos no concelho, reunindo também produtores da região e convidados de outras regiões vitivinícolas, proporcionando uma experiência única de descoberta e degustação.
Esta edição dos Vinhos no Castelo apresentará uma programação diversificada, incluindo provas comentadas, harmonizações gastronómicas, sessões de showcookings, tertúlias temáticas e espetáculos. O evento reforça a ligação entre o vinho e a cultura alentejana, promovendo o enoturismo e a identidade local. Em simultâneo, e sob a assinatura “Iguarias de Serpa”, será dinamizado no Largo dos Santos Próculo e Hilarião (contíguo ao castelo) um espaço de restauração dedicado à gastronomia do concelho. Ali os visitantes poderão degustar produtos icónicos como o queijo, os enchidos, o pão e a doçaria tradicional, acompanhados pelos vinhos em prova no certame.
Em conversa com a Gazeta Rural, o presidente da Câmara de Serpa, realça o forte compromisso na valorização dos produtos regionais e no reforço da visibilidade do setor vitivinícola do Baixo Alentejo. João Ifigénio Palma diz que esta edição dos Vinhos no Castelo promete “consolidar Serpa como um destino de referência no panorama vínico da região”.
Gazeta Rural (GR): O que terá de especial a edição deste ano dos Vinhos do Castelo?
João Ifigénio Palma (JEP): O que tem de especial é consagrar, tornar definitiva e entrar definitivamente no calendário uma iniciativa que se realiza pelo terceiro vez e que tem por fim a promoção e dar, digamos, conforto aos produtores do concelho de Serpa, que sempre teve tradição na produção de vinho.
Sabemos que a freguesia de Pias sempre teve uma grande propensão para a produção de vinho, além de que é uma ‘marca’ conhecida, nomeadamente no bag-in-box. ‘Pias’ é uma designação usada e abusada, que muitas vezes ter nada a ver com a freguesia que lhe dá nome, porque o vinho que ali se produz é de excelente qualidade. O que temos de relevar é o grande trabalho que os produtores têm feito na melhoria da qualidade, na exploração de novas castas ou de castas tradicionais e na produção de vinhos monovarietais.
Com esta iniciativa é promover esta produção e os produtos do concelho de Serpa e, também de alguma forma, demonstrar o reconhecimento pelo trabalho que os produtores têm feito.
GR: Falou na questão da denominação ‘Pias’. Não devia haver alguma regra para a sua utilização porque, ao que sei, há cerca de algumas dezenas de marcas no mercado que utilizam tal designação?
JEP: É um esforço que tem sido feito no sentido de proteger esta denominação. Contudo, como não é uma denominação de origem controlada, é relativamente difícil conseguir essa proteção que necessitaríamos para este nome. A proteção que temos estado a conseguir é através da afirmação e divulgação e promoção dos nossos produtores, para que os consumidores tenham a noção que este é o verdadeiro vinho de Pias, e não só, porque, entretanto, a produção de vinho de qualidade alargou-se pelo concelho, sendo objetivamente a freguesia de Pias onde há maior produção, em termos de quantidade. Diria que, na generalidade, o vinho produzido no concelho de Serpa é de excelente qualidade, com os produtores a fazerem um grande esforço e investimento nesse sentido.
GR: O que representa o setor do vinho na economia do concelho?
JEP: Não lhe consigo dar a expressão exata deste valor, que não é muito significativo, comprado com a produção de azeite, mas que se tem vindo a afirmar com o tempo. As adegas têm vindo a crescer e isso é importante do ponto de vista da manutenção e criação de emprego e na atividade económica do concelho.
Sem dúvida nenhuma que, em quantidade, a grande produção é de azeite. A par do vinho temos a produção de queijo, que tem expressão na identificação de Serpa, como um produto de grande qualidade.
GR: Serpa tem essa diversidade, com a produção de azeite, queijo vinho em diferentes áreas do concelho?
JEP: Costumamos brincar com isso, dizendo que é um concelho muito diversificado, se nos alhearmos das produções intensivas e superintensivas, em que há alagares de azeite instalados em diversos locais. Contudo, diria, que há uma especialização das freguesias na produção de determinados produtos. Por exemplo, Brinches foi sempre muito ligado à produção de oleaginosas, que teve uma grande empresa, a Mariano Lopes e Filhos, – que agora está incorporada na cooperativa agrícola local e também na União de Cooperativas do Beja, – que foi considerada nos tempos antigos, da contribuição industrial, como a única grande empresa do distrito do Beja na produção de azeite e óleos derivados.
A freguesia de Pias sempre muito ligada à produção do vinho; temos a Vale do Vargo com alguma predominância na produção do azeite, em menor escala e em modo mais artesanal. É a freguesia do concelho onde se realiza uma feira do azeite.
Temos Vila Nova de São Bento muito virada para a produção de enchidos e produtos à base de carne; Vila Verde de Ficalho muito virada para o mel e para aqueles produtos da serra; e depois a freguesia de Aldeia Nova de São Bento, sede do concelho, com a produção de queijo. Portanto, diria cada uma das nossas freguesias está ‘especializada’ em produtos de qualidade.
O artigo foi publicado originalmente em Gazeta Rural.