Olivicultores e lagareiros temem que a pandemia de covid-19 possa intensificar a falta de mão-de-obra sentida durante a apanha da azeitona e aumente as incertezas na comercialização de azeite, segundo afirmaram hoje, em Alijó, representantes do setor.
No Douro e em Trás-os-Montes já se apanha a azeitona e os lagares de azeite vão abrindo, gradualmente, as portas.
“Tenho algum receio que, com a falta de mão-de-obra, alguns olivicultores não consigam sequer apanhar a azeitona e depois, também, fruto das circunstâncias, há alguma incerteza em relação à própria comercialização”, afirmou Sérgio Alves, do lagar de azeite Casa do Eirô, em Sanradela, concelho de Alijó, no distrito de Vila Real.
O empresário falava à agência Lusa após uma ação de sensibilização promovida pela Câmara de Alijó, que teve como objetivo ajudar a preparar o setor para prevenir a covid-19.
Em algumas aldeias sente-se falta de pessoas para a apanha da azeitona e, este ano, há ainda receios em ir procurar trabalhadores de outras localidades por causa da pandemia.
Mas as dificuldades de mobilidade também se podem refletir nas vendas.
“Também se vende muito azeite durante a campanha, mas lá está, fruto dessa impossibilidade de mobilidade, a afluência de pessoas ao lagar vai ser mais baixa. Receio que essa parte significativa do negócio fique um pouco parada durante a própria campanha”, salientou Sérgio Alves.
O responsável disse que este ano, em consequência da pandemia, “se verificou uma retração de vendas nos mercados tradicionais” e apontou uma quebra na “ordem dos 30 a 40%”.
Francisco Pavão, da Associação dos Produtores em Proteção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro (APPITAD) acrescentou que, em 2020, se notou um “problema nas vendas”, sobretudo no canal Horeca (hotelaria, restauração e cafetaria), e no pequeno retalho.
“Os azeites de qualidade eram muito vendidos nas lojas de turismo do Porto e de Lisboa e em algum mercado de exportação ligado ao turismo e isso teve uma quebra significava”, referiu.
Francisco Pavão apontou o trabalho que o setor está a desenvolver para encontrar “novos consumidores e novos públicos”. “A covid-19 obrigou-nos a redescobrir-nos enquanto vendedores e promotores da cultura do azeite”, frisou.
Relativamente à campanha deste ano, o responsável referiu que se perspetiva “alguma diminuição localizada de produção” em alguns concelhos da região por causa da falta de água e apontou o “período de seca bastante extenso” que se verificou.
No entanto, ressalvou que a chuva que caiu nas últimas semanas “tem trazido algum alento aos agricultores” e salientou que a “qualidade do azeite é excelente”.
“Não temos condições para produzir em quantidade. Desde que nos continuemos a focar na produção de azeites de qualidade conseguimos valorizar os nossos produtos e trazer valor acrescentado para a atividade”, afirmou Francisco Pavão.
A produção média anual de Trás-os-Montes e Alto Douro ronda as 15 mil toneladas de azeite.
A pandemia é mais um problema para o setor que já se debate com uma diminuição do preço do azeite e da azeitona e com o custo de transporte e tratamento do resíduo bagaço, aplicado no ano passado pelas indústrias extratoras.
Portugal contabiliza pelo menos 2.740 mortos associados à covid-19 em 161.350 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).