Silvicultura Urbana – Carla Abrantes

Desde que surgiram as primeiras árvores, há milhões de anos, que estes seres vivos têm vindo a evoluir e adaptarem-se sucessivamente ao meio ambiente. Na floresta, a árvore desenvolve-se naturalmente, isto é, vive em equilíbrio com as outras plantas, animais e microorganismos.

Contudo, quando o Homem insere a árvore na cidade, impondo-lhe um ambiente normalmente pouco propício ao seu desenvolvimento, surge a necessidade de analisar o arvoredo urbano atendendo, não só, à sua função económica mas também à sua função psicológica e social.

Surge assim um novo ramo das ciências florestais, a Silvicultura Urbana.

A Silvicultura Urbana é o ramos das ciências florestais que se dedica ao estudo dos espécimes florestais em ambiente urbano, isto é, gestão e conservação das árvores de arruamento, de jardins, de solos abandonados, de parques urbanos e matas na área urbana, seu perímetro e respectiva zona de influência. A árvore na óptica da Silvicultura Urbana é encarada como elemento estrutural, ornamental, pedagógico e de minoração da poluição.

Com efeito, a existência de árvores na cidade quebra a agressividade da “paisagem de betão” (amenizando o espaço), suaviza a temperatura (devido à intercepção da radiação solar e evapotranspiração), diminui a velocidade do vento, reduz substancialmente o ruído, diminui a possibilidade de ocorrência de cheias, e, ao interceptar e reflectir parte da radiação solar, diminui o brilho e reflexão da luz pelas superfícies dos pavimentos e edifícios.

Através da produção de oxigénio e consumo de dióxido de carbono, no processo de fotossíntese, bem como pela intercepção das poeiras em suspensão pelas folhas (para esta finalidade devem-se preferir espécies caducífolias), as árvores contribuem significativamente para a diminuição da poluição atmosférica.

No entanto, são numerosos e variados os factores que afectam e diminuem o vigor vegetativo das árvores urbanas. Entre eles podem-se salientar os pavimentos; solos pobres, compactados e deficientes em água e oxigénio; presença de tubagens no solo; radiação solar; reflexão; poluição; danos causados por viaturas e vandalismo. Todos eles por debilitarem as árvores tornam-nas susceptíveis ao ataque de microrganismos nocivos, nomeadamente os fungos de podridão que ao diminuírem a resistência mecânica das árvores, podem provocar a sua queda quer devido a uma intempérie quer por acção do próprio peso, colocando em risco a segurança de pessoas e bens. Ao contrário do que muitas pessoas pensam as árvores, são seres vivos e, como tal, “comuns mortais”, pelo que haverá um momento em que irão morrer.

Não basta ter árvores na cidade, é necessário que estejam bem instaladas, bem conduzidas e saudáveis de modo a tirarmos o maior partido da sua existência. Uma árvore decrépita, em declínio ou mal conduzida tem um valor ornamental nulo.

Para que as árvores possam assumir um papel relevante na valorização do local onde estão instaladas, deverão ser tomados cuidados e medidas apropriadas quer na selecção das espécies quer na sua instalação e manutenção.

Carla Abrantes
Eng.ª Florestal
Directora Técnica
Agrologos, Análise e Desenvolvimento de Espaços Verdes Lda


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