No início de abril, contei aqui que os agricultores costumam escovar os dentes das vacas três vezes por semana e que é facil porque as vacas só tem dentes do lado de baixo, mas depois as pessoas começaram rir e a dizer que não acreditavam por ser dia 1 de abril… 😅 e era naturalmente uma brincadeira, apesar da parte das vacas não terem dentes incisivos (os dentes da frente) no lado de cima da boca ser verdade, pois tem uma gengiva dura suficiente para cortar a erva.
No meio da brincadeira alguém perguntou se além de escovar os dentes também lhes fazemos as unhas e eu respondi que sim e que mostrava na primeira oportunidade, mas também não devem ter acreditado em mim.
Esta semana o Marcos Teixeira do serviço de podologia da empresa “Vaca de Socas” veio “aparar as unhas” (os cascos) a umas vacas e eu aproveitei para filmar de modo a mostrar-vos.
Apararam-se os cascos das vacas quando as unhas estão compridas ou desniveladas, de forma preventiva ou curativa. Os bovinos têm o casco dividido em dois, se um crescer mais e/ou a vaca se apoiar mais nele vai criar um calo, às vezes ferida, os animais tem dor, não se levantam como normal para comer, beber ou ir à ordenha e por isso sempre que vemos um animal coxear chamamos os podólogos bovinos, que fazem o tratamento necessário e colocam um curativo. É uma profissão muito específica e haverá pouco mais de 20 pessoas nesta atividade em Portugal, uma atividade muito importante para o bem-estar animal.
Para segurar os animais sem risco de levar coices utiliza-se um “tronco” de contenção. Este modelo aqui no vídeo é relativamente confortável para o animal mas duro para os podólogos que trabalham vergados.Há outros modelos de tronco, um deles roda a vaca 90 graus, o que é estranho, talvez menos agradável para a vaca mas o operador pode trabalhar direito e penso que não faz mal à saúde do animal. Com base em imagens de vacas deitadas nesses troncos já se inventaram mentiras sobre “centrifugação de vacas” para a carne ficar mais tenra ou outro disparate do género. Não acreditem nessas coisas sem perguntar a um agricultor que vos possa responder, explicar e mostrar a realidade.
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.