O Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP) apresentou a situação sobre os mercados agrícolas e conjuntura atual dos cereais no IV Fórum da Pioneer, realizado a 16 de novembro.
- Consultar a apresentação do GPP
Os conteúdos disponibilizados evidenciaram o panorama do setor dos cereais nos mercados mundial, da União Europeia e a nível nacional, assim como as perpetivas de evolução.
A nível mundial foram reportados dados estatísticos referentes à produção, consumo, stocks e previsões comerciais de trigo, milho e soja. Complementarmente, a referência ao índice de preços emitido pela Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) evidencia a queda pelo 6.º mês consecutivo, havendo no entanto uma inversão na tendência de descida nos cereais, devido à incerteza sobre o acordo do Mar Negro. Esta tendência foi também confirmada pelos índices do International Grains Council (IGC) ainda que menos expressiva.
Para o mercado da União Europeia, e de acordo com as projeções para 2022/2023, salienta-se uma redução das áreas de cultivo (com exceção de trigo e cevada) e na produção, em particular no milho. Entre os fatores determinantes para este reporte incluem-se os custos e disponibilidade de fatores de produção, assim como as condições climáticas. Ambos condicionantes das decisões dos agricultores e com reflexo nas projeções. Destaque também para as disponibilidades de stocks 2021/2022 superiores ao biénio anterior, estimando-se no entanto uma ligeira redução de stocks finais para 2022/2023 em parte devido ao ritmo de crescimento do consumo.
No que respeita ao mercado nacional, confirma-se que a campanha cerealífera 2021/2022 foi marcada pelo impacto da seca severa e extrema, que acompanhou grande parte do ciclo vegetativo dos cereais de inverno, sendo uma das piores campanhas registadas. O impacto foi elevado nas culturas de primavera mesmo com rega, prevendo-se uma redução de 5% da produtividade do milho, tendo o preço dos fatores e a escassez hídrica limitado os efeitos potenciais da subida do preço. Registou-se também uma quebra de 20% da produção de arroz, acompanhada de diminuição de qualidade, resultado dos choques de calor de julho e agosto.
Nos últimos quatro anos cerca de 80% da quantidade de milho importada teve origem em países terceiros dos quais, a Ucrânia representa 46%, seguida pelo Brasil com 41% da média anual de importações de países terceiros. A nível global, a Ucrânia representou cerca de 38% das importações totais de milho nacionais de 2018 a 2021. No caso do trigo, as importações são predominantemente de origem na UE, com França em destaque.
As atuais perspetivas para o futuro do setor dos cereais dependem, em grande parte, do conflito Rússia-Ucrânia que continua a agravar os sobrecustos de energia, fertilizantes, logística e transportes. Num cenário de incerteza, estima-se no entanto uma potencial estabilização, com a continuação da redução dos preços de trigo, existindo porém maior volatilidade e tendência de subida no milho.
Subsiste no entanto um quadro de incerteza, dependente nomeadamente da manutenção de vias de acesso às mercadorias, efeitos do acordo do Mar Negro e retoma dps fluxos comerciais condicionados pela inflação, com os sobrecustos ainda derivados do impacto da Covid. As perspetivas futuras dependem ainda do impacto e oportunidade das iniciativas que venham a ser adotadas a nível europeu, da ameaça de recessão económica e da situação climática.
O artigo foi publicado originalmente em GPP.