A ministra da Agricultura de Espanha visitou a feira Fruit Attraction de Madrid no último mês. Encontrou-se com o secretário de Estado da Agricultura e Alimentação de Portugal, Luís Vieira, junto ao pavilhão da Portugal Fresh, transmitindo-lhe, além das condolências pelas mortes em Portugal nos últimos incêndios a meados de outubro – 45 mortos e cerca de 70 feridos -, uma preocupação inquietante. “Devemos pôr a tónica em quem provoca os incêndios e não em quem os apaga”, disse, em tom carregado, Isabel García Tejerina.
O secretário de Estado português apresentou à ministra espanhola “condolências recíprocas” – na Galiza, os perto de 150 incêndios do mesmo fim de semana de outubro originaram quatro mortos -, mas não lhe respondeu ao repto quanto a saber onde deveremos, afinal, pôr a tónica neste momento de emergência nacional.
O último relatório do Instituto da Conservação na Natureza e das Florestas (ICNF) revela que, entre 1 de Janeiro e 16 de outubro, registaram-se 16 613 ocorrências (3639 incêndios florestais e 12 974 fogachos) que resultaram em 418 087 hectares de área ardida de espaços florestais, entre povoamentos (248 515 hectares) e matos (169 572 hectares). O ano de 2017 apresenta, até 16 de outubro, o sexto valor mais elevado em número de ocorrências e o valor mais elevado de área ardida desde 2007.
O neurocientista António Damásio falou esta semana, no antigo Museu dos Coches, em Lisboa, de “certas modificações que têm a ver com o número de dias em que continua a haver temperaturas altas e não há humidade nem chuva”, defendendo que as alterações climáticas, e não a (in)ação de qualquer Governo, serão a causa dos fogos em Portugal e na Califórnia. Ora, não negando à partida uma ciência que se desconhece, e mesmo podendo até rezar-se para que caia chuva, temos pela frente um desafio colossal: cuidar dos vivos, reparar as perdas, responsabilizar os culpados e preparar o futuro. E uma coisa é certa: vai ser preciso pôr a tónica na sílaba certa, para não hipotecar ainda mais o futuro de Portugal.
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