Tarde Demais – Luís Mira

Em tempo de previsões e sondagens em que poucos acreditam, é curioso que seja precisamente na Agricultura, sector que tem vivido na incerteza e na desgovernação ao longo dos últimos quatro anos que se verifica uma certeza política: Jaime Silva não poderá ser o próximo ministro da Agricultura, qualquer que seja o resultado eleitoral.

O programa do partido do governo confirma esta minha afirmação, pois vem contra tudo o que este ministro tem vindo a fazer ao longo do seu mandato: repõe aquilo que Jaime Silva destruiu, nega o que Jaime Silva fez e dá, em suma, o dito por não dito.

Ainda recentemente, no debate promovido pela CAP sobre as propostas dos partidos políticos para a próxima legislatura em matéria de política agrícola, Ascenso Simões, actual Secretário de Estado do Desenvolvimento Rural e das Florestas, confirmou que um próximo governo do seu partido disponibilizará verbas do orçamento de Estado para execução cabal do ProDer e que será eliminada a modulação voluntária para os próximos anos.

Conhecendo-se a herança do ministro sobre estas matérias, ficamos com a certeza de que Jaime Silva não poderá cumprir um programa de governo contrário às suas convicções. A não ser que, além de Silva, mais alguém queira dar o dito por não dito relativamente ao programa eleitoral que o partido do governo agora apresenta.

Este programa propõe o “apoio às estruturas representativas do sector agrícola e rural”, sabendo-se que Jaime Silva tudo fez para perseguir e destruir essas mesmas estruturas. Aliás, das associações agrícolas aos funcionários do ministério, terão sido poucos os que, discordando da sua política, não foram por ele perseguidos.

Foram quatro anos de uma maioria absoluta com fundos comunitários disponíveis para aplicar. Apesar disso, Jaime Silva preferiu levar em frente uma política agrícola desastrosa, que o deixa para a história como o ministro da Agricultura mais incompetente e nocivo de que há memória.

Na campanha eleitoral fala-se muito da implementação do TGV e das comparticipações europeias para o projecto, e pouco se fala de agricultura. O que Jaime Silva perdeu e não utilizou ao longo destes quatro anos em termos de apoios comunitários é, sem dúvida, superior à comparticipação europeia para o TGV.

É compreensível que se procure fazer uma inversão de marcha quando se percebe estar num beco sem saída. Neste caso, no que concerne à Agricultura, o governo entrou num beco e procura agora desesperadamente inverter a marcha, através de um programa eleitoral que nega, na íntegra, a política agrícola do ministro, a qual foi apoiada pelo primeiro-ministro.

Jaime Silva acaba abandonado por tudo e por todos e nem perante o facto de ver contrariada toda a sua linha política teve a decência de se demitir, o que revela, na realidade, o seu carácter político.

Sócrates não demitiu Jaime Silva atempadamente e vem agora com este programa tentar fazer o branqueamento dos erros da política agrícola do seu governo. Quando as decisões não são tomadas na altura certa, têm sempre consequências irremediáveis. Penso que isso será demonstrado pelos agricultores no próximo dia 27.

O programa do partido do governo acabou assim por dar razão à CAP nas críticas e nas propostas apresentadas ao longo dos últimos anos. Diz o povo que mais vale tarde que nunca, mas o mesmo povo diz também que a justiça tarda mas não falha. Pelo menos para Silva, chega agora, quatro anos depois. Infelizmente, tarde demais.

Luís Mira
Secretário-Geral da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal

Um Polígrafo para o Ministro da Agricultura – Luís Mira


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