Em Portugal, a Páscoa rima com amêndoas em várias declinações. Geralmente são cobertas, mas a matéria-prima está lá. Agora que tanto se discute a cultura de amêndoa de regadio no Alentejo fomos ver o que se passa com a enorme colecção de amendoeiras algarvias e, de caminho, colocamos amêndoas alentejanas contra amêndoas californianas e algarvias.
Amarelo, Boa Casta, Bonita, Bonita de São Brás, Cacela Manta Rota, Canhotas, Carruscas, Coca, Coca de Santa Catarina, Cristomorto, Do Prato, Duro Amarelo, Duro da Estrada, Galamba, Lourencinha, Molar Passarinho, Molar Zé de Oliveira, Molar Zé Sales, Molarinha, Norinha, Paderne, Quinta do Valim, Rogel e – ufa! – Verniz. Eis algumas das variedades regionais de amêndoas do Algarve. Algumas, visto que a colecção de fruteiras da Direcção Regional da Agricultura e Pescas do Algarve (DRAPA), em Tavira, tem qualquer coisa como 80 variedades regionais.
Esta é uma riqueza agrícola, económica, ambiental, paisagística e gastronómica que temos de agradecer à natureza e a um sem-número de gerações de agricultores. Ligeiro problema: se quisermos provar, individualmente, uma das variedades de amêndoas mencionadas – uma que seja – vamos ter de descobrir um agricultor de idade avançada que, com paciência de santo, parta muita casca de amêndoa para, por exemplo, chegarmos a 100 gramas de Lourencinha (a variedade mais rica em termos de gordura). E isto porque, nos mercados, cada saquinho tem variedades cujos nomes são desconhecidos pelos próprios agricultores e comerciantes. O amendoal algarvio é bonito e rico, mas é um verdadeiro granel.
Por vício profissional, a Fugas atirou-se a este trabalho com vontade de, entre outras coisas, provar, individualmente, o maior número de variedades regionais algarvias possível, mas a realidade trocou-nos as voltas. Não nos faltou a generosidade dos agricultores, dos industriais e de vários investigadores, mas, de Faro a Castro Marim, só nos forneceram amêndoas regionais aos molhos. Desafiantes, é certo, mas com sabores e intensidades de doçura e amargos em registo de electrocardiograma. Até na amêndoa a cultura do blend é quem mais ordena.
Antes de avançarmos, convém registar algumas variáveis que enquadram a cultura da amêndoa em Portugal e no mundo: a) o consumo deste fruto seco cresce a um ritmo mundial de 5/6 por cento ao ano; b) a Califórnia domina 80% do mercado mundial e fixa o valor da amêndoa; c) a indústria alimentar mundial só quer preço baixo; d) com excepção do Algarve e de um ou outro concelho do Nordeste transmontano, a pastelaria portuguesa não se interessa pela origem da amêndoa que utiliza (a pastelaria, os consumidores, os chefs e as escolas hoteleiras); e), tirando a DRAPA, o Estado português pouco ou nada fez para defender e multiplicar as variedades regionais; f) a seguir ao olival, o amendoal em modo intensivo e com variedades internacionais […]