O ano de 2020 convidou-nos a celebrar a Sanidade Vegetal e convocou-nos a conversar sobre segurança alimentar. Um ano dedicado ao diálogo sobre a saúde das plantas, ao bem-estar humano e ambiental, celebrado num dos contextos mais imprevisíveis que alguma vez pudemos imaginar, obrigou-nos a pensar o ambiente e a segurança do que comemos e de como ter acesso a alimentos seguros é um direito que ganhámos há muito e que deve continuar a ser nosso, mundial, hoje e sempre.
Um mundo globalizado, com exportações anuais de alimentos constante e sistemas alimentares complexos, exige uma cooperação nacional e internacional, intersectorial, cada vez mais afinada e que garanta a segurança dos alimentos. Por isso, falar de sanidade vegetal, de cuidado com a fauna e flora, com os alimentos e com a saúde do ambiente, é falar de segurança alimentar. Um tema nem sempre linear e consensual, mas que, na verdade, além de um direito fundamental – conseguido há muito a nível civilizacional – é também uma responsabilidade de todos: produtores, indústrias alimentares, governos e consumidores.
O Eurostat revelou esta semana que entre 2011 e 2018, Portugal foi dos países que registou uma maior descida na venda de produtos fitofarmacêuticos (-43%). O que significa que as boas práticas agrícolas, os sistemas de protecção integrada e a aplicação de estratégias cada vez mais eficientes estão a permitir-nos optimizar o que produzimos e assegurar que todos, sem excepção, acedem de forma segura e justa aos alimentos necessários para uma vida saudável. E estes dados, sendo novos, mas bastante alinhados com o comportamento da indústria, revelam, uma vez mais como é importante abrir as portas dos nossos produtores e as janelas viradas para o campo, com o microscópio sempre presente para poder mostrar, sem medos, quem são os verdadeiros aliados nesta luta por uma alimentação mais segura. Alimentar uma população que não pára de crescer, acarreta riscos. Riscos que só com o apoio da ciência, tecnologia e investigação poderão ser minimizados. Por isso, uma vez mais: falar de segurança alimentar é falar de um cenário em que todos são protagonistas e da influência de cada um neste trabalho colectivo e diário.
E esta é a razão que está na origem da decisão da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO) de criar um dia por ano que nos lembra aquela que é a missão diária de centenas de profissionais do sector agroalimentar e outros – o Dia da Segurança Alimentar! É por isso que, pelo menos uma vez em todos os anos, desde 2019, vamos falar sobre um direito que deveria ser mundial, mas ainda não é, sublinhando a necessidade de ter acesso a alimentos seguros, nutritivos e em qualidade suficiente, e reforçando um tema que há muito a ANIPLA aborda e convida à discussão: como nos alimentaremos em 2050?
O direito a alimentos seguros é uma das maiores conquistas da civilização, posto em causa, actualmente, pelos perto 6 mil perigos (de diferentes tipos) que podem afetar a segurança dos alimentos. Perigos que têm de ser devidamente controlados com o apoio de ferramentas cada vez mais eficientes, pensadas para controlar a propagação desses mesmos organismos. Se a uns cabe garantir que os alimentos que produzem, transformam ou distribuem são sanitariamente seguros, a outros cabe o desenhar de um plano de acção coeso e exequível, sem o estabelecimento de metas ideológicas que apenas serão eficazes no papel, como é o caso da estratégia do “prado ao prato” que estabelece a redução de 50% do uso de produtos fitofarmacêuticos até 2030.
No Dia Mundial da Segurança Alimentar importa falar de uma responsabilidade que é partilhada, para alcançar um direito que é de todos, e que é cada vez mais necessária, no caminho por uma alimentação saudável, nutritiva e suficiente.
O artigo foi publicado originalmente em Fitosíntese.