“Toda a vida estivemos a trabalhar. Eu comecei aos nove anos, na agricultura”: reformados falam ‘sem rodeios’ sobre a reforma aos 65 anos

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Os testemunhos de vários reformados espanhóis estão a emocionar o país e a reacender o debate sobre a idade da reforma. De acordo com o Noticias Trabajo, site espanhol especializado em assuntos legais e laborais, um grupo de idosos da localidade de Berja, em Almería, partilhou as suas histórias no programa Andalucía Directo, refletindo sobre o esforço de uma vida inteira de trabalho e o cansaço com que agora enfrentam o aumento progressivo da idade legal de aposentação em Espanha.

“Toda a vida estivemos a trabalhar. Eu comecei aos nove anos, na agricultura”, recorda um dos entrevistados, num tom que mistura orgulho e resignação. O vídeo, divulgado pelo canal Berja Digital, dá voz a quem viveu o país entre o pós-franquismo e a modernização, atravessando décadas de sacrifício, trabalho infantil e desigualdades.

O peso de uma vida inteira de trabalho

De acordo com o Noticias Trabajo, em 2025 apenas quem tiver contribuído durante 38 anos e 3 meses poderá reformar-se aos 65 anos. Para todos os outros, a idade ordinária será de 66 anos e 8 meses, mais dois meses do que em 2024. Vários dos entrevistados encaram a mudança com fadiga e alguma impotência.

“Eu comecei a trabalhar aos 12 anos. Agora tenho 60 e estou farta”, admite uma das mulheres. Outro reformado partilha a mesma sensação: “Ainda me faltam uns anos, tenho 60… mas pronto, já falta menos.” As frases são curtas, mas dizem muito sobre uma geração que começou cedo demais e que vê o descanso a afastar-se lentamente.

A nova forma de envelhecer

Nem todos, contudo, olham para o futuro com nostalgia. Há quem veja a reforma como uma segunda oportunidade. Antonio, um dos entrevistados, encara esta etapa como um renascimento. “Agora quero é aproveitar e viajar”, diz, entusiasmado. Está inscrito no IMSERSO, o programa espanhol de turismo sénior, que retomou as viagens para a época 2025/26 a 6 de outubro de 2025.

Este novo olhar sobre o envelhecimento mostra uma geração que, depois de décadas de trabalho árduo, procura finalmente desfrutar do tempo livre e do fruto do esforço de uma vida inteira.

A sabedoria de quem viveu tudo

Entre as conversas, há lições simples, mas profundas. “Antes, com pouco, éramos felizes. Hoje, os jovens têm tudo, mas muitos não o valorizam”, comenta uma das reformadas, evocando os anos em que a alegria se media por gestos pequenos. Outro conclui: “Há vida depois da reforma, e é quando começa, finalmente, a oportunidade de aproveitar.”

São palavras que condensam a filosofia de quem atravessou crises, regimes e transformações sociais sem nunca deixar de trabalhar.

Uma geração que pede descanso com dignidade

Os idosos de Berja representam um retrato fiel de Espanha: uma geração que sustentou o país através de um esforço constante, muitas vezes iniciado na infância, e que agora pede apenas o direito a descansar com dignidade.

Segundo o Noticias Trabajo, o caso mostra também o contraste entre duas realidades: os que começaram a trabalhar cedo, sem rede de proteção, e os que hoje enfrentam um mercado de trabalho fragmentado, incerto e com reformas cada vez mais tardias.

E em Portugal?

Em Portugal, a idade normal de acesso à pensão será de 66 anos e 7 meses em 2025 e 66 anos e 9 meses em 2026. Existem, no entanto, regimes de antecipação:

  • Flexibilização (60/40) – permite reformar-se antes da idade normal, sem aplicar o fator de sustentabilidade, mas com uma redução de 0,5% por cada mês de antecipação.
  • Carreiras muito longas (60/48 ou 60/46 com início antes dos 17 anos) – permitem a reforma sem cortes nem penalizações.

O ajustamento da idade da reforma é revisto todos os anos, acompanhando a esperança média de vida.

O sistema português, tal como o espanhol, enfrenta o mesmo dilema: equilibrar sustentabilidade financeira e justiça geracional, num país que envelhece depressa e onde muitos ainda dizem que “trabalharam toda a vida”.

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