Torres Vedras inspira investigadores a criar soluções agrícolas inteligentes

Consórcio Smart Farm Colab reúne 18 parceiros nacionais e envolve outros 18 investigadores internacionais. O projeto está configurado para três anos, mas os promotores já pensam na sua continuidade

O projeto Smart Farm Colab vai investir 1,5 milhões de euros na criação de soluções inteligentes para a agricultura a partir de Torres Vedras. Arrancou no ano passado, depois de ter estado em preparação durante quatros anos e de ver aprovada pela Fundação de Ciência e Tecnologia (FCT) a candidatura, liderada pela câmara municipal.

Tudo está já em andamento. No terreno, o local de trabalho está alojado de forma provisória nas instalações em Torres Vedras de um dos parceiros do consórcio, o INIAV-Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, um dos laboratórios do Estado. No futuro, a intenção é estabelecer o Smart Farm no antigo espaço do Instituto da Vinha e do Vinho, na mesma cidade, para onde está projetado um hub de gastronomia e vinho.

Quem dá a cara pela iniciativa é Laura Rodrigues, vereadora, ela própria engenheira agrónoma. É a presidente do projeto, enquanto representante da autarquia. Além da câmara municipal e do INIAV, o consórcio inclui empresas privadas, academias e outras instituições, num total de 18 parceiros.

A recrutar
Por agora, a investigação está a cargo de oito profissionais, com mestrados ou doutoramentos e oriundos dos quatro cantos do mundo – da Tunísia, do Brasil, de Espanha, mas também portugueses, entre engenheiros agrónomos, de eletrónica, de ambiente, biólogos e até contando com um elemento formado em gestão.

A ideia é alargar a equipa às 18 pessoas, com recursos “altamente qualificados”, através de concurso internacional, para trabalhar no projeto durante os três anos previstos – embora o objetivo seja conseguir ter receitas próprias e fazer o Smart Farm Colab perdurar no tempo.

O compromisso dos investigadores prevê abordagens em várias frentes: identificar soluções que permitam o uso eficiente do solo, em termos de consumo de água e de produtos fitofarmacêuticos; ou criar equipamentos com aplicação de robótica para fins agrícolas, como a rega ou a aplicação de tratamentos fitossanitários. A monitorização de parâmetros, com recolha e interpretação de dados, como a humidade ou a temperatura, é outro dos âmbitos de trabalho.

Rastrear e certificar os produtos também consta das apostas, no sentido específico de “maximizar o valor da produção nacional”, em especial, na horticultura, fruticultura e viticultura – as três áreas de eleição do projeto, um pouco por força do enquadramento geográfico onde se desenvolve, admite Laura Rodrigues.

“O Colab quer trabalhar ao nível da produção, e não na área da transformação, por exemplo, porque é na produção que existe um maior desfasamento da academia”, sublinha.

Mas o âmbito do Smart Farm inclui ainda o desenvolvimento de sistemas para integração de diferentes plataformas e gestão de dados que permitam facultar a tomada de decisões e otimizar o uso de recursos, desde logo, os hídricos.

Tirar partido do turismo associado à agricultura completa o leque das missões do projeto, na expectativa de assim se contribuir para a coesão social e atrair pessoas para experiências lúdicas associadas ao mundo rural, à semelhança do que já se pratica no enoturismo ou em quintas de agricultura biológica.

“Os agricultores têm de ser vistos também como os guardiães da paisagem e isso é valorizado pela Comissão Europeia, com a sua estratégia do Green Deal”, destaca Laura Rodrigues, para assinalar o posicionamento do Colab em linha com as políticas europeias mais avançadas de proteção da saúde e do ambiente.

Projetos já em curso
À margem dos objetivos mencionados, o Smart Farm já tem obra feita, e aguarda o resultado de 13 candidaturas de investigação à FCT. Mas o primeiro grande projeto financiado visa a criação de tecnologia robótica para trabalhar na pulverização agrícola, liderado por uma das empresas do consórcio, a Tomix.

Em paralelo, o laboratório também desenvolve projetos sem financiamento, através dos quais serão geradas as receitas próprias. O mais popular visa a construção de sensores – o Sofis – adaptados a cada tipo de cultura. Um dos primeiros já está a ser aplicado na cultura de abacates, para a monitorização do consumo de água.

Mas o projeto também se aplica, por agora, à produção de tomate, de pequenos frutos e de cerejais (cada sensor tem de estar adaptado à cultura em causa). Com uma vantagem adicional, que Laura Rodrigues faz questão de salientar, embora sem avançar valores: “O preço fica muitas, muitas vezes mais baixo do que as ofertas destes produtos existentes no mercado”, garante a autarca.

É com base neste tipo de serviços que o Smart Farm acredita no futuro. E Laura Rodrigues partilha um desejo: “No final dos três anos do projeto, queremos ter vida própria e poder seguir em frente, com autonomia.”

Continue a ler este artigo no Dinheiro Vivo.


por

Etiquetas: