A crise de segurança alimentar desencadeada pela guerra na Ucrânia é, por ela mesmo, uma arma política e diplomática devastadora. Kiev acusa a Rússia de roubar os cereais das zonas ocupadas e teme pelo trigo – 75 milhões de toneladas, segundo Volodymyr Zelensky – que acumula e que não pode exportar, devido ao bloqueio dos portos do Mar de Azov e do Mar Negro.
O trigo é um cereal de clima temperado que se tornou em poucos meses uma arma diplomática no contexto da invasão russa da Ucrânia e é um fator desestabilizador numa crise maior, que ameaça a segurança alimentar de milhões de pessoas.
Mais de 200 milhões de pessoas em todo o Mundo sofrem com a fome aguda, segundo a ONU, que teme que voltem a ocorrer “furacões de fome” por causa do aumento dos preços dos alimentos, que estão em alta desde o início do conflito.
Por que razão o trigo é insubstituível?
Seja sob que forma for (sêmola, farinha ou pão) o trigo é um alimento “consumido em todo o mundo, mas que nem todo o mundo pode produzir”, resume o economista Bruno Parmentier, autor do livro “Nourrir l’humanité” (Alimentar a humanidade). Hoje em dia, apenas uma dezena de países produz trigo suficiente para exportar. A China, que é o maior produtor mundial, importa grandes quantidades para alimentar os seus 1400 milhões de habitantes. Os grandes exportadores são a Rússia, os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália e a Ucrânia.
Um mercado em tensão
Os preços dos cereais já eram altos antes da guerra, mas a cotação do trigo subiu em todos os mercados a partir do segundo semestre de 2021 e manteve-se em níveis altos, sustentados pela recuperação económica após a crise da pandemia. Por trás desta curva ascendente, há várias explicações: o aumento dos preços da energia e dos adubos, a congestão nos portos, a falta de mão-de-obra e as alterações climáticas, que explicam, por exemplo, a colheita catastrófica verificada no Canadá.
Que efeitos a guerra teve?
Desde a invasão […]