Trump estabelece novo acordo. Agora com a Coreia do Sul. O que está em causa?

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Os EUA e a Coreia do Sul chegaram a um acordo comercial na quarta-feira que irá impor uma taxa tarifária de 15% ao aliado norte-americano, que é um dos principais parceiros comerciais do país, anunciou o Presidente Donald Trump. O acordo foi alcançado antes do prazo de 1 de agosto que Trump estabeleceu para que os parceiros comerciais em todo o mundo concordem com os acordos tarifários.

Trump declarou que a Coreia do Sul concordou com uma tarifa de 15% e que os EUA não veriam recair sobre si nenhuma tarifa em resposta. No seu estilo propagandístico habitual, Trump não detalhou qualquer concessão dos Estados Unidos e referiu que vai formalizar este pacto com o Presidente sul-coreano, Lee Jae-myung, durante um encontro entre os dois líderes na Casa Branca nas próximas duas semanas: “Acordámos uma tarifa de 15% para a Coreia do Sul. Os Estados Unidos não pagarão qualquer tarifa”, disse o Presidente republicano através da sua plataforma Truth Social na noite de quarta-feira.

“Acordámos uma tarifa de 15% para a Coreia do Sul. Os Estados Unidos não pagarão qualquer tarifa”, diz Trump.

O Presidente acrescentou que a Coreia do Sul irá investir 350 mil milhões de dólares nos EUA (306 mil milhões de euros) e referiu que o Presidente sul-coreano, Lee Jae Myung, irá acertar outros pormenores com a Casa Branca nas próximas duas semanas.

De acordo com os pormenores deste pacto revelados anteriormente pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, Seul vai comprar 100 mil milhões de dólares (87,5 mil milhões de euros) em gás natural liquefeito e outros produtos energéticos norte-americanos.

Além disso, adiantou Trump, a Coreia do Sul estará “completamente aberta” ao comércio com os Estados Unidos, facilitando a compra de automóveis e produtos agrícolas norte-americanos.

A Coreia do Sul, que recentemente lidou com o impeachment do ex-presidente Yoon Suk Yeol, apressou-se com a sua nova liderança para fazer um acordo com os EUA, já que o país enfrentou inicialmente uma taxa tarifária de 25% contra suas exportações.

Embora seja uma redução em relação à taxa proposta por Trump (de 25%), a nova taxa tarifária de 15% é um salto em relação à taxa de 10% sobre a Coreia do Sul desde abril, em linha com uma taxa tarifária mínima geral definida por Trump.

Presidente sul-coreano saúda acordo com EUA e diz que reduz incerteza

“Ultrapassámos um grande obstáculo”, escreveu o Presidente da Coreia do Sul, Lee Jae-myung na rede social Facebook, acrescentando que as negociações com os Estados Unidos eram uma prioridade desde que chegou ao poder, no início de junho, e que durante as conversações tinham dado prioridade “apenas ao interesse nacional”.

“Com este acordo, o Governo elimina a incerteza no ambiente de exportação e, ao igualar ou reduzir os direitos aduaneiros dos EUA sobre as nossas principais exportações, em relação aos principais concorrentes, criaram-se condições para competir numa base igual ou superior à dos outros países”, afirmou Lee.

Os investimentos a realizar por parte da Coreia do Sul incluem em indústrias estratégicas fundamentais, o que vai apoiar a entrada de empresas sul-coreanas no mercado norte-americano em setores como construção naval, semicondutores, baterias secundárias, biotecnologia e energia.

Em particular, um fundo de 150 mil milhões de dólares (131 mil milhões de euros) vai ser destinado exclusivamente à cooperação no domínio da construção naval: “Apoiará fortemente a entrada das nossas empresas no setor da construção naval dos EUA”, afirmou o Presidente sul-coreano.

“Há dois lados numa negociação, por isso não é fácil. O importante não é que um deles fique com todos os benefícios, mas que se chegue a um resultado mutuamente favorável”, afirmou ainda o Presidente Lee, acrescentando que o acordo “é o resultado da convergência entre o interesse dos EUA em reconstruir a sua indústria transformadora” e a vontade sul-coreana em “reforçar a competitividade” das empresas no mercado norte-americano.

O dirigente manifestou esperança de que o acordo comercial contribua para reforçar a cooperação industrial entre os dois países “e que a aliança bilateral seja reforçada”.

O acordo entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos surge um dia antes do fim do prazo dado por Trump para impor unilateralmente tarifas aos parceiros comerciais caso não seja alcançado um consenso prévio.

A Coreia do Sul é o principal parceiro comercial dos Estados Unidos na Ásia, juntamente com o Japão. Com o Japão, a administração Trump também concordou em reduzir as tarifas de 25% para 15%.

Que países chegaram a acordos comerciais com Trump?

Em abril, Trump tinha anunciado novas taxas alfandegárias sobre quase todos os parceiros comerciais, mais punitivas para aqueles com excedentes comerciais com Washington, antes de suspender a sua entrada em vigor e iniciar negociações sobre novos acordos.

Esta sexta-feira marca o prazo final estabelecido por Trump para a imposição unilateral de tarifas aos seus parceiros comerciais, caso não haja acordo prévio.

Além da Coreia do Sul, os Estados Unidos também chegaram a um acordo sobre uma taxa tarifária de 15% para o Japão na semana passada, acrescentando aos acordos comerciais que fez com o Reino Unido (10%), as Filipinas (19%) e a Indonésia (19%). Com a União Europeia, o acordo alcançado foi de 15%.

Que países não chegaram a um acordo comercial com Trump?

Vários países não chegaram a um acordo, incluindo o Brasil (50%), a África do Sul (30%) e a Tailândia (36%). A China, que tem temporariamente em vigor uma taxa tarifária de 30%, também não chegou a um acordo a longo prazo. O Canadá e o México, que serão atingidos por tarifas de 35% e 30%, respetivamente, em 1 de agosto, não chegaram a acordo com os EUA.

Também na quarta-feira, Trump disse ter concluído um acordo comercial com o Paquistão, prevendo o desenvolvimento conjunto “das suas enormes reservas de petróleo”.

“Estamos em processo de escolha da empresa petrolífera que irá liderar esta parceria. Quem sabe, talvez um dia ela venda petróleo à Índia!”, afirmou o Presidente norte-americano na plataforma Truth Social.

“Outros países estão a fazer ofertas para redução de tarifas. Tudo isto ajudará a reduzir significativamente o nosso défice comercial”, adiantou Trump, prometendo divulgar mais informação sobre acordos em breve.

Ainda na quarta-feira, Trump anunciou um imposto de 25%, que entrará em vigor na sexta-feira, sobre todos os produtos fabricados na Índia que entrem no território norte-americano, a que será acrescentada uma penalização devido à compra de petróleo e armas russas por parte das autoridades indianas.

O Governo da Índia disse que “tomou nota” do anúncio de Trump, que surgiu dois dias antes do prazo estabelecido pelo próprio Presidente norte-americano, referindo ainda que está a analisar as implicações das condições.

“A Índia e os Estados Unidos estão envolvidos em negociações para concluir um acordo comercial bilateral justo, equilibrado e mutuamente benéfico. Continuamos empenhados neste objetivo”, afirmou o Governo indiano, em comunicado.

Em relação ao Brasil, Trump assinou já o decreto que oficializa a imposição de tarifas de 50% aos produtos brasileiros, naquela que representa mais uma escalada da Casa Branca contra o Governo de Lula da Silva.

A medida foi tomada “para lidar com políticas, práticas e ações recentes do Governo do Brasil que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”, lê-se no documento. Uma das justificações é a acusação de golpe de Estado a Jair Bolsonaro, aliado político de Donald Trump.

Washington anunciou ainda tarifas de 50% sobre os produtos de cobre, mas não sobre o metal bruto exportado, decisão saudada pelo Chile, o maior produtor mundial de cobre e o principal fornecedor norte-americano.

“Uma leitura preliminar leva-nos a concluir que não serão aplicadas tarifas aos cátodos de cobre”, placas de cobre de elevada pureza, “o que permite ao nosso país continuar a abastecer este mercado”, disse Máximo Pacheco, presidente da empresa estatal chilena Codelco, citado pela EFE.

Em relação ao Canadá, o Presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que um acordo comercial com o Canadá vai ser “muito difícil”, após declarações do primeiro-ministro canadiano, Mark Carney, sobre a intenção de reconhecer um Estado palestiniano.

“O Canadá acaba de anunciar que apoia um Estado palestiniano. Vai ser muito difícil para nós concluirmos um acordo comercial com eles. Ó Canadá!!!!”, escreveu ainda na quarta-feira o dirigente norte-americano na plataforma Truth Social, da qual é proprietário.

O Canadá pretende reconhecer o Estado da Palestina na Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro, anunciou nesse dia Mark Carney, defendendo ser necessária uma mudança de política para preservar a esperança da solução de dois Estados: “O Canadá pretende reconhecer o Estado da Palestina na 80.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro de 2025”, disse Carney numa conferência de imprensa. Após o anúncio, Israel condenou a intenção do Canadá, que considera favorecer o movimento islamita Hamas. “Reconhecer um Estado palestiniano na ausência de um governo responsável, de instituições funcionais ou de uma liderança benevolente recompensa e legitima a monstruosa barbárie do Hamas a 07 de outubro de 2023”, afirmou a Embaixada de Israel em Otava.

Carney enquadrou a decisão como uma resposta ao “sofrimento insuportável” causado pelas ações de Israel para impedir a distribuição de ajuda humanitária em Gaza, à violência dos colonos israelitas na Cisjordânia e aos planos de anexação do território palestiniano.

“O Canadá está há muito empenhado numa solução de dois Estados: um Estado palestiniano independente, viável e soberano, ao lado de um Estado de Israel em paz e segurança. Durante décadas, esperou-se que este resultado fosse alcançado como parte de um processo de paz”, explicou Carney. “Infelizmente, esta abordagem já não é alcançável”, acrescentou numa conferência de imprensa em Otava.

Principais antecedentes na relação comercial Seul/Washington

As principais exportações da Coreia do Sul para os EUA incluem veículos e produtos eletrónicos. O presidente norte-americano tem defendido as tarifas como um meio de reduzir os défices comerciais com outros países e levar os americanos a comprar mais produtos nacionais. Ele também argumentou que as tarifas reforçariam a segurança nacional e criariam milhões de empregos nos EUA. No entanto, o Centro para o Progresso Americano (Center for American Progress), de esquerda, disse que a probabilidade de as tarifas aumentarem o emprego é baixa, evocando a “abordagem de tarifas e cortes de impostos” do presidente no seu primeiro mandato que “resultou numa perda líquida de empregos na indústria”. Alguns economistas também sugerem que as tarifas tornarão os produtos mais caros para o consumidor americano médio e potencialmente custarão às famílias mais 2.400 dólares por ano.

com Antonio Pequeño IV/Forbes Internacional e Lusa

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