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Ucrânia: Bruxelas acredita que Rússia quer deixar ucranianos à fome

A Comissão Europeia (CE) acredita que a Rússia está a atacar deliberadamente as reservas de alimentos da Ucrânia para deixar a população do país à fome, disse hoje o responsável europeu pela Agricultura, Janusz Wojciechowski.

“É um método semelhante ao usado na década de 1930 pelos soviéticos na Ucrânia e no Cazaquistão, onde milhões de pessoas morreram à fome”, disse o comissário, em conferência de imprensa, no âmbito da apresentação de um relatório que propõe medidas para salvaguardar a segurança alimentar, em risco devido à guerra na Ucrânia, e reforçar os sistemas alimentares na União Europeia (UE).

Segundo o comissário, de nacionalidade polaca, os membros do Governo ucraniano com quem os 27 têm mantido contactos nos últimos dias relataram “muitos casos de ataques deliberados a infraestruturas agrícolas”, o que, segundo considerou, pode ser interpretado como vontade “de criar fome como método de agressão”.

A ONU estima que até 18 milhões de pessoas na Ucrânia serão afetadas por essa insegurança alimentar, incluindo cerca de 6,7 milhões de deslocados internos.

“A escassez de alimentos nas cidades e os milhões de refugiados e deslocados exigem que seja mandada ajuda alimentar urgente para a Ucrânia”, refere o relatório, indicando que organizações humanitárias e outros atores, incluindo o Programa Alimentar Mundial, estão a fornecer assistência e querem aumentar as operações.

Por seu lado, a UE está a mobilizar ajuda através dos seus mecanismos humanitários e de proteção civil.

Até agora, a ajuda humanitária da UE já lançada ascende a 93 milhões de euros, direcionados para a Ucrânia e a Moldova, incluindo ajuda alimentar e apoio às necessidades básicas.

Embora tenha garantido que a disponibilidade de alimentos não está em causa na UE, a Comissão Europeia admitiu que haverá aumentos dos preços e defendeu que a situação “realça a necessidade de a agricultura e as cadeias de abastecimento alimentar da UE se tornarem mais resilientes e sustentáveis”.

Por outro lado, e a fim de garantir segurança alimentar global, perante problemas de fornecimento e aumento de preços em regiões como a Ucrânia, África e o Médio Oriente, a CE pediu que se evitem restrições às exportações de alimentos da UE.

Tanto a Ucrânia como a Rússia são importantes fornecedores dos mercados mundiais, especialmente de cereais e óleos vegetais, como trigo, cevada e milho, sendo que Kiev é também responsável por mais de 50% do comércio mundial de óleo de girassol e um importante fornecedor de ração para a UE.

Bruxelas propôs ainda que os Estados-membros da UE avancem com taxas reduzidas de Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) para “melhorar a acessibilidade dos alimentos” e que incentivem a contenção dos preços.

A Rússia lançou, a 24 de fevereiro, uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou quase 1.000 mortos e mais de 1.500 feridos entre a população civil, incluindo mais de 180 crianças.

O conflito provocou a fuga de mais 10 milhões de pessoas, entre as quais 3,6 milhões para os países vizinhos, segundo a ONU.


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