A comissária europeia para os Serviços Financeiros, Mairead McGuinness, pediu aos parceiros internacionais que “libertem” os grãos de trigo que estão atualmente armazenados na Ucrânia, para garantir o fluxo de cereais e prevenir eventuais crises de fome.
Durante um colóquio organizado hoje pelo Instituto de Finanças Internacionais, a líder comunitária culpou o Exército russo pela alegada destruição de celeiros e armazéns de alimentos, durante invasão militar da Ucrânia.
McGuiness descreveu o caso como “criminoso”.
“É simplesmente nojento, porque posso ver os rostos de mulheres e crianças de todo o mundo que vão sofrer por esse crime de destruir reservas de grãos”, indicou a irlandesa, poucas horas antes de a Comissão Europeia apresentar um plano para facilitar o transporte de produtos agrícolas ucranianos.
Com esta proposta, que será apresentada na quinta-feira, Bruxelas pretende ajudar Kiev a evitar o bloqueio da Rússia aos principais portos comerciais do mar Negro, e promover o transporte rodoviário e ferroviário de produtos da Ucrânia, através dos Estados-membros da União Europeia (UE).
“A minha preocupação é com a fome no mundo, com aqueles que não têm meios para se alimentar. E [o chefe de Estado russo] Vladimir Putin é responsável pela sua fome. Mas nós também somos responsáveis para que o pior não aconteça. Pedi aos meus colegas da Comissão para fazer tudo o que pudermos”, adiantou McGuiness.
No entanto, a comissária também admitiu que o Executivo Comunitário deve “em algum momento olhar além do imediato”, e pediu para tomar nota da crise alimentar resultante da guerra na Ucrânia para o futuro.
“Às vezes tomamos as nossas melhores decisões nos momentos mais difíceis. E não gosto que façamos isso, embora, por outro lado, esteja feliz por pelo menos aproveitar essas oportunidades”, esclareceu.
Além disso, McGuiness recusou-se a estabelecer um prazo para um eventual embargo da UE ao gás russo, pois ainda existem “diferenças de opinião” entre os países.
No entanto, a comissária assegurou que todos os Estados-membros têm o mesmo objetivo.
“Queremos ter a certeza de que não fazemos parte da máquina de guerra russa, temos de tirar o nosso dinheiro de lá e apoiar os nossos amigos ucranianos. É a meta que nós queremos alcançar. Agora devemos encontrar uma maneira de fazer”, acrescentou.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, das quais mais de 5,5 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.