O Governo do Egito está a negociar a compra de trigo à Índia para compensar a quebra no abastecimento proveniente da Rússia e da Ucrânia, anunciou o governo indiano em declarações citadas pela imprensa local.
De acordo com vários jornais indianos, o ministro do Comércio e Indústria do Egito, Piyush Goyal, reuniu-se com o ministro do Desenvolvimento Económico, Hala El-Said, no Dubai, na segunda-feira, para debater os contornos do acordo, que serve para compensar a forte queda da produção global de trigo, essencialmente devido à guerra na Ucrânia.
No ano passado, o Egito importou 1,8 mil milhões de dólares, cerca de 1,6 mil milhões de euros, de trigo da Rússia, a que se juntam mais 600 milhões de dólares, o equivalente a quase 530 milhões de euros, deste cereal comprado à Ucrânia.
A Índia está a aumentar a produção de cereais para compensar a quebra resultante não só do embargo à Rússia, mas também às dificuldades de escoamento da produção da Ucrânia devido à invasão pela Rússia.
Segundo a imprensa indiana, o Governo quer aumentar as exportações para os países que já são compradores, como o Sri Lanka e o Bangladesh, e para outros estados do Médio Oriente, onde as compras representam 2 a 10% do total.
Além disso, quer expandir-se para países africanos, como a Nigéria, que importou cerca de 13 milhões de toneladas de trigo da Rússia e da Ucrânia.
A divulgação da estratégia da Índia acontece no dia seguinte a uma reunião das Nações Unidas sobre a crise humanitária na Ucrânia, na qual os Estados Unidos (EUA), a França e o Reino Unido afirmaram que os bombardeamentos incessantes da Rússia a cidades e infraestruturas críticas da Ucrânia criaram uma das maiores crises humanitárias das últimas décadas, deixando milhares de cidadãos sem comida, água, aquecimento ou eletricidade durante um inverno severo.
“As pessoas recorreram ao derretimento da neve para beber água. Uma mãe disse a repórteres que só podia alimentar as suas três filhas com uma colher de mel por dia enquanto elas se escondiam das bombas russas. Agora, as autoridades da cidade dizem que as pessoas estão a começar a morrer – a morrer – de fome. Pensem sobre isso”, disse a vice-secretária de Estado dos EUA, Wendy Sherman.
“Há cinco semanas, Mariupol estava em paz. Era, de facto, uma movimentada cidade portuária, exportadora de cereais, que ajudava a alimentar o mundo. Hoje, os seus moradores estão a morrer por causa da guerra de escolha do Presidente [russo, Vladimir] Putin”, acrescentou.
A governante norte-americana frisou que, apesar de Ucrânia e Rússia serem grandes produtores agrícolas, Moscovo bombardeou pelo menos três navios civis que transportavam mercadorias dos portos do Mar Negro para o resto do mundo; bloqueou o acesso aos portos da Ucrânia, “basicamente cortando as exportações de cereais”; impediu que cerca de 94 navios que transportam alimentos para o mercado mundial chegassem ao Mediterrâneo; e alegadamente atacou silos de cereais e instalações de armazenamento de alimentos.
“Todas essas ações da Rússia estão a criar uma crise alimentar na Ucrânia – e muito além das fronteiras. Os preços dos alimentos estão a subir vertiginosamente em países de baixos e médios rendimentos, à medida que a Rússia sufoca as exportações ucranianas. (…) Estamos particularmente preocupados com países como Líbano, Paquistão, Líbia, Tunísia, Iémen e Marrocos, que dependem fortemente de importações ucranianas para alimentar as suas populações”, afirmou.
Também o chefe do Programa Alimentar Mundial (PAM), David Beasley, disse que a guerra reduziu as entregas de fertilizantes da Rússia e da Bielorrússia e impediu os ucranianos de cultivar milho, trigo e sementes de girassol, aumentando os riscos de uma crise alimentar global.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.179 civis, incluindo 104 crianças, e feriu 1.860, entre os quais 134 crianças, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de quatro milhões para os países vizinhos.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.