Vários chefes das Finanças do G20, incluindo a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, discutiram hoje medidas em Bali, Indonésia, para conter o custo crescente dos alimentos e fertilizantes que está a aumentar a fome no mundo.
A secretária do Tesouro dos EUA reiterou que Moscovo está a utilizar a alimentação como “arma de guerra” na Ucrânia após a invasão do país em fevereiro passado, e a exacerbar as consequências da pandemia da covid-19 e da crise climática sobre a segurança alimentar.
“Os mais diretamente afetados são as famílias mais pobres dos países mais pobres, as famílias que utilizam uma parte desproporcionada dos seus rendimentos na alimentação são forçadas a dilemas difíceis”, disse Yellen num debate à margem da reunião do G20 Finance em Nusa Dua, em Bali.
A secretária do Tesouro dos EUA instou o G20 a tomar decisões por consenso e rapidamente, apelando ao mesmo tempo aos países para que não imponham restrições às exportações de alimentos ou aos inventários de existências.
Uma das preocupações expressas no debate foi a falta de fertilizantes no mercado devido à guerra na Ucrânia, que está a agravar a crise alimentar.
O ministro das Finanças do Senegal, Amadou Hott, cujo país assumiu a presidência da União Africana este ano, disse que embora os alimentos e fertilizantes não estejam sujeitos a sanções na Rússia e na Bielorrússia, muitas empresas e bancos preferem não arriscar a comprar a estes países.
“Têm medo de receber sanções no futuro. É possível dizer muito claramente que quando se compra alimentos ou fertilizantes na Rússia, na Ucrânia ou noutros lugares, não há sanções hoje, não há sanções amanhã?”, questionou o ministro senegalês.
Hott salientou que o número de pessoas que sofrem de subnutrição em África aumentou de 230 milhões para 310 milhões de pessoas desde o início da guerra na Ucrânia, de acordo com o Programa Alimentar Mundial.
“Segundo o Banco Africano de Desenvolvimento […], a África tem um défice de cerca de 2 milhões de toneladas métricas de fertilizantes este ano. Isto traduz-se em cerca de 11.000 milhões de dólares em perdas de produção”, disse o ministro senegalês.
Hott instou os países de todo o mundo a agirem com a urgência e consenso que demonstraram durante a pandemia da covid-19, avisando que é provável que mais pessoas morram de fome do que devido à covid-19.
A inflação e as crises alimentares e energéticas ameaçam agravar a situação da fome, que afeta 811 milhões de pessoas em todo o mundo, com 276 milhões em fome extrema em comparação com 135 milhões antes da pandemia, de acordo com o Programa Alimentar Mundial.