O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, sublinhou esta sexta-feira que os importantes “acordos sobre cereais”, que facilitam a exportação de alimento e fertilizantes da Ucrânia e da Rússia, também devem ser cumpridos em relação às exportações russas.
Estes acordos expiram em 19 de novembro e o trabalho está a ser realizado em contra relógio para prorrogá-los, notícia a agência Efe.
António Guterres reagiu desta forma ao crescente ceticismo por parte da Rússia sobre este tema, depois de na quinta-feira a porta-voz da diplomacia russa, María Zajárova, ter expressado a sua insatisfação, referindo que os acordos foram realizados de forma desequilibrada, considerando que apenas está a beneficiar os cereais ucranianos e não as exportações russas.
O diplomata português, sem entrar no pormenor sobre as alegadas violações, sublinhou que é importante que “o acordo assinado com a Federação Russa seja plenamente aplicado”, assim como a parte relativa à Ucrânia.
“Se alimentos e fertilizantes não chegarem aos mercados globais agora, os agricultores não terão esses fertilizantes na hora certa a um preço que possam pagar quando a temporada de plantação começar em todo o mundo em 2023 e 2024, com efeitos dramáticos na produção e nos preços”, realçou Guterres, através do seu porta-voz.
O responsável da ONU especificou que o acordo, nos seus termos atuais, permitiu colocar mais de nove milhões de toneladas no mercado, e “contribuiu para baixar os preços do trigo e outras matérias-primas” ao longo de sete meses, segundo as tabelas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Além disso, evitou que 100 milhões de pessoas caíssem na pobreza, acrescentou.
“Pedimos a todas as partes que façam todos os esforços para renovar [os dois acordos] na sua totalidade, incluindo a superação dos obstáculos restantes à exportação de grãos e fertilizantes russos o mais rápido possível”, insistiu Guterres.
Na quinta-feira, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, defendeu que a Rússia irá enfrentar uma “enorme indignação” e “raiva” de muitos países se desistir do acordo que permite a exportação de cereais ucranianos pelo mar Negro.
“Faremos todo o possível para manter o acordo”, acrescentou.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas – mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 247.º dia, 6.374 civis mortos e 9.776 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.