O secretário-geral da ONU, António Guterres, interrompeu as férias e vai viajar nas próximas horas para Istambul, divulgou hoje um porta-voz da organização internacional, sem especificar, no entanto, o propósito desta deslocação inesperada à cidade turca.
Istambul foi palco na semana passada de uma reunião de peritos militares da Rússia, Ucrânia e Turquia e de representantes da ONU para tentar desbloquear a exportação dos cereais russos e ucranianos retidos devido à guerra na Ucrânia e evitar uma crise alimentar global.
Numa conferência de imprensa, o porta-voz da ONU, Farhan Haq, precisou que também irão viajar para Istambul o vice-secretário-geral para os Assuntos Humanitários, Martin Griffith, e a secretária-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês), Rebeca Grynspan, dois representantes que têm estado envolvidos nas negociações Rússia-Ucrânia, patrocinadas pela Turquia, que decorrem há várias semanas.
O porta-voz recusou-se a dar mais pormenores sobre um potencial acordo sobre os cereais, cuja conclusão poderá estar iminente, nem esclareceu se os mais altos responsáveis da Rússia e da Ucrânia estarão igualmente em Istambul para oficializar um protocolo.
No entanto, e segundo referiu a agência espanhola EFE, Farhan Haq deu a entender que representantes dos dois países estarão na cidade turca.
Guterres “viaja para Istambul como parte dos seus esforços para assegurar um pleno acesso global aos alimentos ucranianos e aos alimentos e fertilizantes russos”, disse o porta-voz, que excluiu, por outro lado, que um futuro acordo possa incluir qualquer alívio das sanções internacionais impostas à Rússia na sequência da invasão da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro.
Farhan Haq salientou que “não se trata de um acordo entre duas partes, Rússia e Ucrânia, é um acordo para o mundo inteiro”, uma vez que “centenas de milhares, talvez milhões de vidas humanas podem ser salvas” caso o acordo seja firmado e aplicado.
O representante não precisou quanto tempo poderá demorar o transporte dos cereais ucranianos retidos nos portos do Mar Negro através das rotas negociadas, mas realçou que a ONU e as “outras partes” estão a trabalhar para que isso seja feito “o mais rápido possível”.
O anúncio desta deslocação de Guterres a Istambul surge um dia depois do chefe da diplomacia russa ter afirmado que insistiu junto da ONU para que a organização alcançasse um acordo que facilite as exportações agrícolas da Rússia, afetadas pelas sanções ocidentais, em troca da passagem dos cereais ucranianos bloqueados devido à guerra.
“Enviámos ontem [terça-feira] um sinal ao secretário-geral (da ONU) dizendo, aqui está, esta é a vossa iniciativa, vamos tomar uma decisão sobre os ucranianos, depois sobre os russos”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov.
Antes, o Presidente russo, Vladimir Putin, já tinha feito um pedido similar.
“Vamos facilitar a exportação de cereais ucranianos, mas com base no levantamento de todas as restrições relacionadas com as entregas aéreas para a exportação de cereais russos”, apontou o chefe de Estado russo em declarações após uma reunião do chamado Grupo de Astana, que junta Rússia, Turquia e Irão, que decorreu na passada terça-feira em Teerão.
Números avançados pelos ‘media’ internacionais apontam que mais de 20 milhões de toneladas de grãos e sementes de girassol estão bloqueados nos portos ucranianos do Mar Negro.
Em conjunto, segundo a revista britânica The Economist, a Ucrânia e a Rússia fornecem 28% do trigo consumido no mundo, 29% da cevada, 15% do milho e 75% do óleo de girassol.
As exportações de cereais e de fertilizantes russos têm sido afetadas pelas sanções impostas pelo Ocidente sobre as cadeias logísticas e financeiras russas.
A Rússia é um exportador chave de fertilizantes. Em 2021, o país foi o principal exportador mundial de fertilizantes nitrogenados e o segundo fornecedor de fertilizantes potássicos e fosforados.