Ucrânia: Kiev insta a manutenção de rotas marítimas abertas para fornecer cereais a África

A Ucrânia exortou hoje a esforços internacionais para manter abertas as rotas do mar Negro utilizadas para o transporte de milhões de toneladas de cereais para os países africanos.

Um enviado ucraniano declarou na cimeira dos Países Menos Avançados (PMA), em Doha, no Qatar, que 2,7 milhões de toneladas de cereais tinham sido expedidos desde novembro, quando Kiev iniciou o seu programa “Grain from Ukraine” (“Cereais da Ucrânia”), principalmente para os países africanos mais pobres.

Kiev pretende enviar pelo menos outros 60 navios “para os países mais atingidos pela fome e pela seca em África e na Ásia”, precisou Maksym Subkh, enviado especial da Ucrânia para o Médio Oriente e África.

As nações mais pobres do mundo estão a pagar “o preço mais pesado” pela invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro do ano passado, sublinhou Subkh.

A Rússia e a Ucrânia são dois dos maiores exportadores de cereais do mundo, e após a invasão russa, há um ano, Moscovo impôs um bloqueio nos grandes portos ucranianos, impedindo todas as exportações de cereais nomeadamente com destino a África e à Ásia.

O bloqueio causou, em parte, o aumento dos preços dos bens alimentares de primeira necessidade em todo o mundo.

Um acordo prevendo a criação de um corredor marítimo seguro no mar Negro para o transporte de cereais a partir de três portos ucranianos foi assinado em julho, sob a égide da ONU e da Turquia, e permitiu a exportação de cerca de 20 milhões de toneladas de cereais.

Depois, o acordo foi renovado em meados de novembro do ano passado e expira a 18 de março.

“A guerra agravou a crise alimentar no mundo inteiro”, vincou Maksym Subkh na cimeira de Doha.

Os Governos ocidentais e a União Europeia (UE) doaram mais de 150 milhões de dólares (cerca de 142 milhões de euros) ao programa “Grain from Ukraine”, que visa em parte desmentir as afirmações de Moscovo segundo as quais a Ucrânia é, em grande parte, responsável pela crise alimentar internacional.

O enviado especial ucraniano apelou aos Estados-membros da ONU para que “unam os seus esforços para garantir o funcionamento ininterrupto do corredor dos cereais no mar Negro”, acusando a Rússia de “ter insinuado” estar pronta para impor um novo bloqueio.

Nos termos do acordo de julho, a Rússia pode, por seu lado, exportar fertilizantes sem sanções ocidentais. Mas Moscovo insiste que uma parte do acordo não está a ser respeitada.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Neste momento, pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 377.º dia, 8.173 civis mortos e 13.620 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.


Publicado

em

, ,

por

Etiquetas: