A agência da Organização das Nações Unidas para a ajuda alimentar apelou hoje à reabertura dos portos ucranianos no Mar Negro para permitir a exportação de trigo e milho, da qual dependem muitas nações pobres.
O Programa Alimentar Mundial (PAM) realçou no seu apelo que, antes da invasão russa, 98% das exportações de cereal ucraniano foram feitos através destes portos.
O PAM detalhou ainda que um mês depois do início da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro, o preço das exportações de trigo subiu 22% e o do milho 20%, aumentos estes que se acrescentam aos já acentuados ocorridos em 2021 e no início deste ano.
A agência da ONU defendeu que os portos no sul ucraniano, que têm sofrido fortes bombardeamentos, devem reiniciar as suas operações “para proteger a produção agrícola ucraniana e permitir as exportações que são críticas para a economia da Ucrânia e para a segurança alimentar global”.
A exportação de cereais bloqueada nos portos ucranianos devido à invasão russa tinha motivado na terça-feira a União Ucraniana de Industriais e Empresários (USPP, na sigla em ucraniano) a solicitar ajuda a organizações internacionais.
Cerca de 4,5 milhões de toneladas de cereais estão bloqueadas nos portos ucranianos por causa do ataque russo, afirmou a organização em comunicado.
“A guerra da Federação Russa contra a Ucrânia transtornou a estabilidade alimentar no mundo e colocou as regiões mais vulneráveis em risco de sofrerem fome”, denunciou.
O ataque russo à Ucrânia afetou fortemente as enormes exportações de trigo e outros cereais, o que, segundo a agência da ONU para a alimentação (FAO, na sigla em Inglês), contribuiu para que os preços dos alimentos tenham subido para máximos dos últimos 30 anos.
Por outro lado, o economista ucraniano Oleh Pendzyn, em declarações à radio de Kiev Hromadske Radio, salientou que a invasão russa prejudicou gravemente as colheitas ucranianas, além de os militares russos estarem a destruir as reservas de cereais da Ucrânia.
Oleh Pendzyn recordou que, segundo a ONU, a invasão russa da Ucrânia e o bloqueio dos portos marítimos ucranianos podem provocar a fome de 1,7 mil milhões de pessoas, o que representa mais de um quinto da população mundial.
Os ataques russos que visam a produção agrícola da Ucrânia já levaram as autoridades do país atacado a acusarem os dirigentes de Moscovo de quererem repetir a grande fome do ‘Holodomor’ estalinista, que causou a morte a milhões de ucranianos na década de 1930 do século passado.
O vice-ministro ucraniano da Política Agrícola, Taras Vysotski, declarou no sábado que as tropas russas apreenderam “centenas de milhares de toneladas” de cereal nos territórios ocupados e que se espera que apreendam a maior parte do que não está armazenado.
O portal noticioso ucraniano LB denunciou há uma semana que na região de Kherson, controlada pelas tropas russas, as forças de Moscovo só permitem aos agricultores fazer as sementeiras se se comprometerem a dar depois 70% das colheitas futuras.