Peritos militares da Rússia, Ucrânia e Turquia reúnem-se hoje, em Istambul, para tentar desbloquear a exportação dos cereais ucranianos retidos nos portos do Mar Negro devido à guerra e evitar uma crise alimentar global.
A reunião, em que participam representantes das Nações Unidas, decorrerá à porta fechada num local não especificado da capital da Turquia, disse o Ministério da Defesa turco à agência noticiosa francesa AFP.
Espera-se uma declaração no final do encontro, cujo horário também não foi divulgado.
Mais de 20 milhões de toneladas de grãos e sementes de girassol estão bloqueados nos portos ucranianos do Mar Negro, na sequência da guerra iniciada pela Rússia em 24 de fevereiro.
Em conjunto, segundo a revista britânica The Economist, a Ucrânia e a Rússia fornecem 28 por cento do trigo consumido no mundo, 29% da cevada, 15% do milho e 75% do óleo de girassol.
A escassez global destes produtos é agravada pela falta de fertilizantes, que a Rússia deixou de exportar desde o início da guerra.
“As delegações militares (…) e a delegação da ONU irão manter conversações”, disse o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar, na terça-feira, citado pela agência espanhola EFE.
Akar disse que a reunião de hoje resulta de um “desenvolvimento positivo” a nível diplomático e destacou as conversações que manteve com os seus homólogos da Rússia, Serguei Shoigu, e da Ucrânia, Oleksy Reznikov.
Na segunda-feira, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, falou por telefone com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, sobre o assunto, exortando a ONU a agir no sentido de estabelecer um corredor de navegação para as exportações através do Mar Negro.
Horas mais tarde, também discutiu a questão com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, de acordo com a agência Ukrinform.
O maior obstáculo para se chegar a um acordo tem sido o controlo dos navios, uma vez que Moscovo quer registá-los para garantir que não transportam armas para a Ucrânia, uma exigência que Kiev rejeita.
Numa entrevista divulgada hoje, o chefe do departamento de organizações internacionais do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Pyotr Ilichov, reafirmou as exigências de Moscovo.
“Para nós, as condições óbvias continuam a ser a possibilidade de controlar e verificar navios para excluir o contrabando de armas, e para Kiev renunciar a provocações”, disse à agência russa Interfax, segundo a EFE.
Ilichov afirmou que a Rússia “não impediu e não impede a partida dos grandes navios de mar ucranianos”.
“Os militares russos abrem diariamente corredores humanitários do Mar Negro e do Mar de Azov”, acrescentou.
O lado ucraniano pede garantias de segurança contra ataques russos se concordar em remover as minas marítimas que colocou para proteger os seus portos.
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) advertiu na terça-feira que a falta de fertilizantes poderá reduzir a produção de cereais na região em 20%.
O secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, admitiu, no domingo, que as restrições russas à exportação de cereais ucranianos podem ter contribuído para a situação de agitação civil no Sri Lanka.
Uma revolta popular eclodiu no Sri Lanka, no sábado, em protesto contra a falta de alimentos, combustível e medicamentos, de que resultou o afastamento do poder do Presidente da República e do primeiro-ministro.
“Estamos preocupados com as implicações [da guerra na Ucrânia] em todo o mundo”, disse Blinken.