É curioso que, numa altura em que até o sistema de GPS chegou aos tractores agrícolas, o equipamento mais necessário na agricultura portuguesa seja o polígrafo. Com efeito, o detector de mentiras tornou-se um instrumento essencial para os agricultores nos momentos em que Jaime Silva faz declarações públicas.
Ainda recentemente, o ministro veio reafirmar aos agricultores portugueses, na comunicação social, as duas linhas mestras da sua política agrícola ao longo dos últimos quatro anos: a falsidade e a irresponsabilidade.
Afirmar que não ficou nada por aplicar relativamente ao Proder (Programa de Desenvolvimento Rural) nos anos de 2007 e 2008, numa altura em que 33% das medidas nem sequer estão legisladas, é um exercício de pura falsidade. Para desmentir este ministro parece que já não chegam os documentos oficiais que o contradizem, é mesmo necessário um polígrafo.
Por outro lado, falar da agricultura nacional na primeira pessoa – eu negociei, eu aplico, eu gasto – além de demonstrar claramente o estilo com o qual Jaime Silva gere o ministério, constitui um acto de extrema irresponsabilidade.
Além disso, ao afirmar que pode gastar a totalidade das verbas do quadro comunitário num só ano, quando existem determinações comunitárias que o impedem, o ministro consegue juntar numa só afirmação as duas linhas estratégicas da sua política – falsidade e irresponsabilidade.
Se para a falsidade podemos ainda recorrer ao polígrafo, para a irresponsabilidade só conseguimos identificar uma solução: afastar definitivamente este ministro e esta política da nossa governação. A política do “quero, posso e mando” tem limites não apenas nos regulamentos comunitários mas também na paciência dos agricultores e dos portugueses em geral.
O ministro teve um mandato de quatro anos, uma maioria absoluta a apoiá-lo e fundos comunitários para aplicar, mas deixa a agricultura nacional na pior situação desde a entrada na União Europeia.
Se olharmos para o mapa de resultados das recentes eleições, facilmente concluímos que Jaime Silva custou ao partido do governo entre 250 a 450 mil votos de agricultores nas últimas eleições. Considerando todo o mundo rural, poderemos estar a falar de 2 milhões de pessoas directa ou indirectamente dependentes do sector agrícola no nosso País. O voto dos agricultores não é desprezível e, ao contrário das declarações do ministro, não é falso nem irresponsável.
Urge, portanto, ter em conta o peso e a vontade dos agricultores nas opções políticas que vierem a ser tomadas nos meses que antecedem os próximos actos eleitorais. A não ser que, entretanto, seja possível disponibilizar um polígrafo para o ministério da agricultura e rapidamente se elimine qualquer dúvida que ainda exista quanto à necessidade de afastar Jaime Silva da governação.
Luís Mira
Secretário-Geral da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal