[Fonte: UÉ] A Universidade de Évora (UÉ) desenvolveu uma ferramenta pioneira que utiliza tecnologia “smart-sensing” onde, através de uma rede de sensores inteligentes, recolhe continuamente e em tempo real os dados associados de suínos na fase de engorda, atuando de forma autónoma quer sobre os animais, quer no microclima registado nas instalações pecuárias.
As diferentes condições ambientais testadas através de small-lab-prototype, uma sala com ambiente controlado localizada na Universidade de Évora, para simulação das situções de inverno, termoneutralidade e verão, ou em living-lab-prototype, em condições reais numa exploração comercial vieram confirmar o sucesso alcançado pela equipa de investigadores do projeto AWARTECH (Animal Welfare Adjusted Real Time Environmental Conditions of Housing), uma co-promoção empresarial estabelecida entre a Universidade de Évora, a Equiporave Ibérica, e a Hexastep, financiado pelo Programa Alentejo 2020, Portugal 2020 e FEDER da União Europeia.
“Mais do que obter dados e lançar alertas, o sistema que agora propomos consegue atuar de forma autónoma sobre vários parâmetros, seja ao nível das alterações comportamentais, fisiológicas e de performance dos animais” sublinha Vasco Fitas da Cruz, coordenador deste projeto que contou com uma vasta equipa de investigadores dos departamento de Engenharia Rural, Zootecnia, Medicina Veterinária, Biologia, Física, Informática e de Gestão da Universidade de Évora, integrando ainda, bolseiros de investigação e estudantes da UÉ para o desenvolvimento deste novo conceito.
Ainda que sejam conhecidos sistemas semelhantes, esta plataforma tecnológica de big data desenvolvida durante a execução deste projeto, permite não apenas observar e colectar uma maior quantidade de dados e de parâmetros, mas sobretudo, “permite que o sistema tenha a capacidade de atuar sobre os dados de uma forma autónoma”, o que, na opinião de Vasco Fitas da Cruz, representa uma inovação ao nível da melhoria das condições ambientais das explorações pecuárias e na otimização do bem-estar animal.
Recorrendo à capacidade deste sistema de «varrimento» inteligente é agora possível em tempo real obter um conjunto de dados considerados determinantes para identificar as condições dos animais, tais como a temperatura corporal, (e oscilações registadas), ou a frequência com que estes se alimentam diariamente, “com precisão de um grama sabemos a quantidade ingerida por animal cada vez que este vai à máquina de alimentação”, destaca Vasco Fitas da Cruz.
O também investigador do Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas (ICAAM) da UÉ deixa outro exemplo e refere que, caso o sistema registe o amontoamento de animais por um determinado tempo, e que esse indicador possa revelar que os animais estão desconfortáveis e com frio, o que se traduz no aumento da termogénese, aumento do consumo de alimentos, ou na redução da circulação periférica, esta ferramenta tecnológica após a validação dos dados pelo próprio sistema irá atuar; “como resposta vai aumentar a temperatura no interior da instalação onde se encontram estes animais”, o mesmo se pode verificar com a emissão de Co2, “caso esteja a aumentar ou a superar os parâmetros corretos, o sistema dispara o alarme e, uma vez mais, vai atuar autonomamente”, desta vez corrigindo a temperatura através do sistema de ventilação para que, de forma eficaz, proceda à renovação o ar e mantenha a temperatura correta.
Esta ferramenta de zootecnia de precisão para a sustentabilidade da produção de suínos, propõe desta forma, soluções de gestão assentes na monitorização, análise e controlo dos parâmetros ambientais, fisiológicos, comportamentais e produtivos.
Para o diretor-geral da Equiporave Ibérica, Asdrúbal Neves, parceiro comercial do projeto, esta ligação entre a empresa e a Universidade de Évora “foi muito importante até para nós compreendermos melhor a importância do conceito smart-farming, seja para a suinicultura seja para a avicultura”, e um desafio para as empresas que devem apostar neste tipo de parcerias e conseguir “diferenciar os seus produtos no mercado que está cada vez mais exigente”.
O próximo passo assegura Vasco Fitas da Cruz, e depois de consolidados todos os dados, “é avançar para o registo de uma patente para proteger esta invenção que é fruto de um trabalho muito ambicioso” conclui.