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Uso de antibióticos em zootecnia e resistência antimicrobiana – Manuel Chaveiro Soares

A descoberta por Alexander Fleming, em 1928, da produção da penicilina por fungos e das suas propriedades antibióticas, designadamente causando a morte da bactéria Staphylococcus aureus (actualmente muito resistente aos antibióticos), foi inicialmente subestimada pela classe médica; mas, finalmente, já no início da Segunda Guerra Mundial, a penicilina foi produzida em escala industrial e, em 1945, Fleming recebeu o Prémio Nobel, vindo a ser enterrado como herói nacional na Catedral de São Paulo, em Londres, em 1955.

Efectivamente os antibióticos contribuíram de forma drástica para o avanço da terapêutica médica, tendo-se rapidamente verificado também que os seus efeitos eram igualmente notáveis quando usados em zootecnia, tanto no tratamento de doenças, como na promoção de crescimento dos animais.

Consequentemente, a uma maior velocidade de crescimento dos animais corresponde uma melhor eficiência alimentar e, portanto, um menor custo de produção. Assim sendo, desde o início da década de 1950, tornou-se usual administrar doses sub-terapêuticas de antibióticos a animais de produção.

Entretanto, porém, verificou-se uma crescente resistência aos antibióticos, nomeadamente nos humanos.

Se bem que seja reconhecido que a maioria das resistências a antibióticos tem origem no uso destes em medicina humana, e não se conheça uma evidência científica robusta que comprove que os agentes patogénicos zoonóticos com resistência a antibióticos transfiram essa resistência ao Homem, tanto na UE como nos EUA, está em curso uma campanha em ordem à redução do uso de antibióticos em zootecnia.

É interessante notar que, todavia, são diferentes as estratégias adoptadas.

Na UE têm sido principalmente os decisores políticos a tomar a iniciativa: em 1 de Janeiro de 2006, com base no princípio da precaução, a Comissão Europeia proibiu o uso de antibióticos como promotores de crescimento e, em 25 de Outubro de 2018, o Parlamento Europeu determinou que os antibióticos só sejam administrados aos animais de produção quando o médico veterinário diagnosticar uma infecção.

Nos EUA o uso de antimicrobianos promotores de crescimento está ainda a ser debatido pelas entidades oficiais, mas importantes cadeias de retalho e de restauração estão a manifestar preferência por alimentos de origem animal produzidos sem antibióticos – no antibiotics ever (NAE).

Considerando os condicionalismos anteriormente apontados, torna-se imperioso proceder ao uso judicioso de antibióticos em animais de produção – mormente melhorando biossegurança, maneio e nutrição – e, ainda mais importante, cumpre ter em atenção as práticas inerentes à medicina humana, inclusive no que toca às infecções nosocomiais, não raras nos nossos hospitais.

Manuel Chaveiro Soares

Engenheiro Agrónomo, Phd

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Economia Circular: uma importante perspectiva na fertilização das culturas – Manuel Chaveiro Soares


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