A utilização de energia solar na conservação de alimentos por desidratação – Gonçalo Costa Martins

Desde sempre o Homem utiliza a desidratação para conservar os seus alimentos.

Hoje em dia, nos Países desenvolvidos, continuamos a desidratar os mais variados produtos: ervas aromáticas e medicinais, fruta, legumes, cogumelos ou goji, algas e todos os frutos secos. A desidratação é a base de múltiplos processos na indústria farmacêutica, alimentar ou cosmética.

[Nos países em desenvolvimento, devida à inexistente ou reduzida rede de frio, a secagem é ainda o método primordial de conservação dos alimentos, principalmente peixe e cereais, poupando-os às perdas pós-colheita por deterioração ou contaminação.]

Uma secagem de qualidade exige equilíbrio entre o calor fornecido e a humidade relativa do ar no interior da câmara de secagem. Só assim se preservam as características organoléticas e nutritivas do material vegetal: estabilizando a atividade microbiológica e as reações químicas e enzimáticas.

A secagem convencional de carácter intensivo (industrial) tem como principio o aquecimento do ar que provoca a evaporação e o arrastamento da água – ou seja a desidratação dos produtos. Este processo é alimentado por enormes quantidades de energia elétrica ou fóssil não renovável.

Quando pensamos na energia solar como uma alternativa às fontes convencionais, pensamos logo na sua intermitência e baixa densidade – as noites e os dias nebulados. Estes factores tornariam difícil a obtenção dum sistema de secagem fiável, ou seja, capaz de operar a temperaturas razoavelmente constantes. Este sistema permite nestas alturas, minimizar estes inconvenientes, recorrendo a uma energia auxiliar que assegura a continuidade da secagem num ambiente controlado.

Durante o dia e sempre que as condições atmosféricas são favoráveis, a secagem realiza-se por convecção do ar aquecido pelo Sol e armazenado nos coletores; durante a noite e em dias de chuva, são automaticamente acionados os equipamentos auxiliares com recurso à energia elétrica – o desumidificador e o aquecedor. Estes auxiliares promovem a desidratação por duas formas – mecânica e por troca de ar com diferencial térmico que, em conjunto com a circulação de ar quente, constituem as três formas de secagem deste sistema.

Para automatizar a escolha entre estas formas de secagem e assim tirar partido, a todo o momento, da forma mais eficiente (mais económica e mais rápida) foi desenvolvido um algoritmo e um controlador que o aplica. É este controlador que é o cérebro do sistema e permite o funcionamento ininterrupto do desidratador.

É também este controlador que regista os parâmetros de secagem para posterior análise e tratamento estatístico, traça curvas de secagem e, assim, deixa ao utilizador margem para apurar a secagem, em função das suas necessidades ou especificidade do produto final que pretende obter.  Como equipamento IoT (Internet of Things), possibilita a monitorização e controlo da secagem, em qualquer parte do mundo e a qualquer hora.

Nos últimos anos, temos vindo a assistir à entrada no mercado de sistemas de desidratação inovadores que, com a introdução de novas tecnologias bem como o aperfeiçoamento de técnica existentes, conseguem contornar os elevadíssimos custos energéticos e os danos ambientais próprios dos sistemas intensivos, sem no entanto beliscarem a qualidade do produto final seco.

Um desses sistemas é a BLACKBLOCK®, uma solução de desidratação, inteiramente portuguesa e vencedora de prémios inovação. Este sistema de secagem recorre ao Sol como principal fonte de energia térmica, o que em si não é uma novidade – existiam já outros sistemas de secagem natural ou forçada que o faziam. O que o BLACKBLOCK® traz de novo é a fiabilidade e a acessibilidade através da internet. Este sistema é constituído por uma câmara de secagem isotérmica coberta por painéis térmicos. É nesta ‘caixa’ formada por estes dois elementos que é aquecido o ar, através da captação da energia radiante do Sol e sua transformação em energia térmica. Armazenado neste espaço, o ar quente fica disponível para entrar na câmara de secagem por meio de ventiladores. Construído inicialmente para climas mediterrânicos como o nosso, foi desenhado para operar no exterior, no entanto foi posteriormente adaptado para operar no interior de edifícios, nomeadamente em climas mais frios do norte da Europa. É pois possível colocá-lo no interior de instalações deslocando os painéis para o exterior e conduzido o ar quente por meio de tubagens para o interior. É também possível optar por uma utilização mista, com a movimentação do equipamento para o exterior durante o dia, recolhendo-o à noite. É esta  solução ousada que está em desenvolvimento para a Islândia, no âmbito de um projeto Horizonte 2020, lançando assim o português BLACKBLOCK® para novos desafios!

 

Gonçalo Costa Martins

CEO da Blackblock

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