Preocupado com o futuro da agricultura portuguesa, o Presidente da República reuniu-se com 30 jovens agricultores em Maio passado, voltou ao assunto no discurso de 10 de Junho e no mesmo dia publicou um artigo de opinião no Expresso sobre esse tema. Nesse artigo, o Presidente da República reconhece o consenso entre os vários programas eleitorais sobre o apoio aos jovens agricultores mas aponta o envelhecimento do sector que se agravou entre 1999 e 2009. “ Portugal é o país agricolamente mais envelhecido da União Europeia (…) tem a percentagem mais baixa de jovens agricultores (…) e a mais elevada de agricultores acima dos 65 anos.”
Entre as várias causas que podem explicar esta situação (o carácter depressivo que há anos acompanha o sector agrícola português, as dificuldades naturais da profissão, o apego à terra dos mais idosos, a má imagem pública desta profissão, dificuldades de acesso à terra e ao financiamento, burocracia, falta de apoio técnico, etc) , o Presidente refere expressamente o “afastamento acentuado dos rendimentos agrícolas relativamente ao rendimento de actividades não agrícolas”.
Resta esperar e trabalhar para que os futuros governantes, os agentes económicos e a sociedade respondam ao desafio presidencial. Boas intenções e palavras positivas de todos os quadrantes já temos, apoios à instalação também. Sempre os tivemos, excepto durante 3 anos do mandato do Ministro Jaime Silva, com o esgotamento do anterior programa AGRO sem que o actual PRODER estivesse disponível. Demoram tempo, exigem demasiada burocracia, mas existem. O que falta? Valorizar a produção. Se a agricultura for suficientemente rentável para compensar as “dificuldades naturais da profissão”, ultrapassaremos também o “carácter depressivo”, obteremos financiamento e encontraremos reconhecimento social e apoio técnico. O que não vale a pena é iludir os jovens com meia dúzia de euros no apoio à instalação para depois perderem dinheiro na sua actividade, como acontece actualmente com os produtores de leite de todas as idades. São poucos os jovens que se instalam no sector leiteiro e muitos os que pensam desistir.
Também não vale a pena tentar “tapar o sol com a peneira”, como tentam fazer as grandes superfícies comerciais com “declarações” de apoio à produção agrícola nacional. Os números provam que são os maiores importadores e as notícias que nos chegam das suas compras em Portugal referem uma pressão constante para baixarem o preço de compra dos produtos agrícolas. Assim, pode subir o gasóleo, os adubos ou as rações e o produtor que aguente, porque o leite não pode subir ao consumidor e o lucro das cadeias de distribuição não pode baixar.
Sem um preço justo pelos produtos agrícolas, a produção não é viável; Se os hipermercados continuarem a investir mais na publicidade sobre o seu apoio à produção nacional do que no pagamento efectivo dos produtos em prazo razoável e a preço justo, se a margem ficar muito mais no comércio e na transformação que na produção, não vale a pena apelar ao investimento na agricultura. Trabalhemos para valorizar os produtos agrícolas portugueses e a agricultura portuguesa será viável, com os actuais e os futuros agricultores.
Carlos Neves
Presidente da APROLEP E AJADP