‘Vertical Farming’ a forma inevitável de alimentar o mundo num futuro próximo – Marisa Lourenço

Desde o início do século XXI, as industrias agrícola e alimentar têm sido sujeitas a diversos desafios, tais como a capacidade de providenciar uma alimentação segura para a crescente população mundial e, simultaneamente, visando mitigar o impacto da agricultura no ambiente. Além destes, o ajuste dos canais de distribuição de alimentação também tem sido um desafio devido ao aumento dos habitantes em áreas urbanas.

Na presente data, a população mundial já atingiu mais de 7 biliões e 660 milhões de pessoas, e o aumento é assustadoramente imparável. Este crescimento populacional indomável e incontrolável exige que as práticas convencionais agrícolas sejam revistas e, até mesmo, reformadas.

Ao fazer uma pequena pesquisa, aproximadamente, 60m2 poderá ser considerado um valor representativo da área necessária para produzir alimentação para um ser humano. De acordo com a revista AN AGU, o nosso planeta tinha uma área média de produção agrícola de 15 milhões de km2 (12% da superfície terrestre não gelada) e de 28 milhões de km2 para pasto (22%) em 2000. Com estes dados, não é difícil chegar à conclusão que, com uma sobrepopulação, estimada a atingir os 9.6 biliões de pessoas em 2050, não existe nem existirá área útil suficiente para cobrir as necessidades alimentares de todos. Para além do mais, em 2050, a população a viver em cidades ultrapassará os 70%.

De acordo com os factos referidos acima, as práticas agrícolas convencionais terão de ser reformadas e ponderadas. Além disso, serão necessárias novas abordagens relativas aos canais de distribuição de alimentação para cidades com sobrepopulação. Só assim, com os olhos no futuro, este desafio conseguirá ser solucionado.

A par com o crescimento populacional, o desenvolvimento tecnológico já mostrou alternativas face à agricultura convencional, que podem ser viáveis e sustentáveis para contornar este problema. Tais como, a intitulada, agricultura vertical.

O conceito de agricultura vertical visa utilizar mais eficientemente o espaço disponível para produção de uma determinada gama de culturas colocando as áreas de crescimento verticalmente sobrepostas. O termo não está estritamente definido, refere-se apenas a qualquer prática de crescimento de culturas, em que as mesmas estão alinhadas verticalmente, tanto em estufas (sistema semi-fechado, em maior parte dos casos) como em fitocâmeras (sistema fechado).

Em países como o Japão, Alemanha, Países Baixos e Estados Unidos da América (EUA) algumas unidades de produção vertical já estão em funcionamento. Em que estas podem ser classificadas em (1) fábrica de plantas (AKA plant factories), que são produções verticais que estão estabelecidas em edifícios e podem executar grandes escalas de operações; (2) contentores de crescimento de plantas (AKA growth containers), que visa a utilização de contentores standard convertidos para câmaras de crescimento, providenciando a possibilidade de alocação dos mesmos. Ambas as abordagens acima referidas, podem ser implementadas para explorar as vantagens de uma agricultura vertical: produção alimentar segura e protegida, encurtando os canais de distribuição e aumentando o rendimento em produção (kg) e em área usada (mais kg/m2).

As ‘fábricas de produção vertical’ (vertical farmings) reivindicam a produção de alimentos de uma forma sustentável e amiga do ambiente, aumentando com segurança a produção alimentar nas cidades. Correntemente, nos EUA a produção de vegetais em agricultura vertical é considerada de produção biológica caso não sejam aplicados pesticidas durante o ciclo de crescimento da cultura. Ainda assim, existe muita resistência à aceitação desta designação de ‘organic food’ para agricultura vertical. De qualquer modo, as culturas produzidas neste tipo de sistemas podem ser qualificadas como ‘functional food’ pois mostram ter um potencial positivo na nutrição e saúde humanas. É também importante referir que a agricultura vertical, visto ser praticada em sistemas fechados ou semi-fechados, tem uma pegada ambiental reduzida, evitando a esterilidade e saturação dos solos.

Partilho da opinião que, de facto, esta é uma alternativa viável face ao desafio populacional em que nos encontramos hoje em dia. Por um lado, a definição de agricultura vertical, que explicitei anteriormente neste artigo, dá a ideia de uma produção completamente artificial, em nada ‘biológica’. Mas, se ao definirmos uma prática de agricultura biológica o uso de componentes de produção (como substratos, adubação, produtos para proteção de plantas) biológicos, então custa-me a não aceitar que uma agricultura vertical possa ser considerada uma prática não biológica. De facto não é a luz natural que é utilizada, dando um ar de uma agricultura muito artificial, mas é de conhecimento comum que a radiação fotossinteticamente ativa para as plantas não cobre todo o espectro da luz solar mas sim determinados comprimentos de onda, muitas vezes específicos e diferentes entre culturas. O que significa ainda, no meu ponto de vista, que ao utilizar uma agricultura vertical poderíamos ajustar não só a intensidade de luz necessária para a produção viável de uma cultura, assim como o número de horas de luz e os comprimentos de onda fornecidos para uma produção considerada de eficiente e sustentável.

É verdade que unidades de produção verticais terão custos acrescidos de energia, mas para diversas culturas de ciclo de produção curto e para culturas de maior retorno este tipo de produção seria viável, e sem dúvida que no futuro, será não só considerada de viável como de inevitável.

Marisa Coelho Lourenço

Investigadora Assistente na UPorto

Gestora de Produção em Viveiros Vitor Lourenço Lda.

30 de outubro de 2018, Porto Portugal.

 


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