Números preliminares das candidaturas mostram que os vitivinicultores nacionais se propõem destilar 12 milhões de litros, recebendo, por isso, 8,6 milhões de euros, e armazenar mais de 24 milhões de litros. Apoios totalizam 2,5 milhões de euros; Douro foi a região que mais candidaturas apresentou a ambas as medidas.
O sector reclamou e o Estado reforçou as verbas para as medidas de crise para o vinho com mais três milhões de euros, fazendo subir o valor total dos apoios para 18 milhões. Afinal, as candidaturas ficaram longe de esgotar sequer a dotação, ficando 6,8 milhões de euros por atribuir. A ministra da Agricultura promete que esta verba ficará disponível para outras iniciativas que possam vir a ser necessárias em função da evolução da situação do mercado.
“Continuamos a acompanhar o evoluir da situação da crise pandémica de forma a ajustar atempadamente todas as medidas que a Comissão Europeia disponibiliza e estaremos sempre atentos às necessidades do sector”, avançou, em declarações ao Dinheiro Vivo, Maria do Céu Antunes.
Em causa estão as medidas de apoio à destilação e ao armazenamento de vinho, às quais o Ministério da Agricultura havia afetado, inicialmente, 10 milhões e cinco milhões, respetivamente. E que reforçou, a 18 de julho, para um total de 12 milhões para a destilação e de seis milhões para a guarda, prolongando as candidaturas até ao final de julho. E os dados preliminares do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) mostram que, afinal, o dinheiro extra alocado não foi necessário, embora a alteração das regras, que acompanhou o reforço de dinheiro, permitindo aumentar de 40 para 60 cêntimos por litro o preço da destilação de crise dos vinhos com Denominação de Origem e de 30 para 45 cêntimos nos vinhos com Indicação Geográfica, e majorando estes valores para regiões com viticultura em zona de montanha, tenha levado a um aumento substancial das candidaturas.
O Douro, por exemplo, que poucas candidaturas havia apresentado na versão inicial dos apoios, lidera agora os pedidos, quer na destilação, quer no armazenamento. Assim, dos 12,426 milhões de litros de vinho que os produtos se propõem queimar, de modo a evitar excedentes que levem a uma desvalorização das uvas na próxima vindima, 4,355 milhões são de vinhos da região duriense, a esmagadora maioria dos quais com DOC. Correspondem a, grosso modo, 3,265 milhões de euros, de um total de 8,631 milhões de euros candidatados a nível nacional.
Em segundo na tabela surgem os produtores da Região dos Vinhos Verdes, que se propõem enviar para destilação mais de 2,923 milhões de litros pelos quais receberão 2,165 milhões de euros. E, em terceiro, surgem os vitivinicultores alentejanos, que candidataram à queima quase 1,9 milhões de litros, que darão direito a um apoio de 1,092 milhões de euros.
Embora com apoios menores, naturalmente, já que se trata apenas de comparticipar no esforço de guarda dos vinhos à espera de melhores condições para os introduzir no mercado, a medida de crise de apoio ao armazenamento foi a preferida pelos vitivinicultores. Deram entrada nos serviços do IVV 286 candidaturas para apoios ao armazenamento de 24,271 milhões de litros de vinho (quase o dobro do que vai ser destilado), a que correspondem apoios de 2,540 milhões de euros.
O apoio médio por candidatura é de 8.881 euros para uma média de 85 dias de armazenamento. Mais uma vez o Douro lidera, com 87 candidaturas, referentes a quase 719 milhões de litros e a um apoio potencial de 719 mil euros. Segue-se o Alentejo, com 50 candidaturas correspondentes à intenção de guardar 505 milhões de litros de vinho, a que corresponde um apoio estimado de 552 mil euros. Em terceiro lugar, surge a região de Lisboa, que não apresentou qualquer candidatura para destilação de vinhos com denominação de origem (só para vinhos com Indicação Geográfica e, mesmo assim, apenas para 576 mil litros), mas cujos vitivinicultores pretendem apoio para armazenar, à espera de melhores condições de mercado, quase 205 milhões de litros, o que lhes dará um apoio potencial de 226 mil euros.
Para o presidente do IVV, os dados das candidaturas aos apoios de crise são “um sinal de que o sector está, apesar de tudo, saudável”, sendo de destacar que, à porta das vindimas, “o nível de stocks excedentários não é tão alto como alguns temiam”. Bernardo Gouvea mostra-se “satisfeito” por a medida de destilação ter chegado para todos, e ainda sobrado, não obrigando ao rateio das verbas.
No caso do Douro, além destas medidas, o Governo aprovou ainda o desbloqueio de cinco milhões de euros do saldo de gerência do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) para a criação de uma reserva qualitativa específica para o vinho do Porto que permitirá produzir 10 mil pipas adicionais, elevando a produção autorizada (vulgo benefício) para 102 mil pipas na próxima vindima, sendo que a reserva qualitativa ficará guardada nos primeiros três anos e será, depois, introduzida gradualmente no mercado nos sete anos seguintes, em função das necessidades.
Exportações voltam a terreno positivo em junho e crescem 16%
As exportações de vinho cresceram 16% no mês de junho para um total de 65,2 milhões de euros, mais nove milhões de euros do que em igual período de 2019. Apesar desta recuperação, o sector não conseguiu ainda anular as quebras de 4% em abril e de 18% em maio, pelo que, no acumulado do primeiro semestre, as empresas portuguesas de vinho exportaram menos 0,9%, no valor total de 365 milhões de euros. O presidente do Instituto da Vinha e do Vinho admite que a quebra no semestre “é preocupante”, mas mostra-se convicto que a situação se poderá alterar rapidamente.
“Ainda estamos a analisar os números, mas é muito preocupante fecharmos o semestre negativos”, admite Bernardo Gouvea, em declarações ao Dinheiro Vivo, sublinhando que o comportamento das exportações foi “totalmente díspar” entre os destinos europeus e extracomunitários. Na verdade, as exportações para a União Europeia caíram 14% no acumulado do semestre (embora, só no mês de junho, já tenham crescido 9,5%) para 173,8 milhões de euros, quanto as vendas para países terceiros cresceram 15,5% para 191,2 milhões.
“É sempre mais difícil recuperar nos países terceiros, ou seja, se conseguirmos manter esta dinâmica de crescimento, assim que a Europa começar a recuperar, as nossas exportações recuperarão mais rapidamente”, acredita Bernardo Gouvea. E os dados de junho parecem ajudar: as vendas de vinhos para fora da União Europeia dispararam 23,9% para 31,7 milhões de euros, um aumento de seis milhões face a igual mês do ano passado.
Em termos dos principais mercados, a França está a cair 9,9%, para 50 milhões de euros, embora no mês de junho já tenha crescido 20,8%, e a Alemanha perde 4,75% para 24,3 milhões (em junho cresceu mais de 20%). Mas a Holanda já cresce no acumulado do semestre 5,3% para 19,149 milhões e o Reino Unido também: 14,5% para 29,4 milhões de euros. Em terreno positivo estão, também, os Estados Unidos e o Canadá, a crescer, respetivamente, 9,9% e 11,32% para 23,5 milhões e 44,8 milhões de euros. O Brasil desliza 0,9% para 22,3 milhões de euros.
O artigo foi publicado originalmente em DN.