Viticultores da Madeira encontram qualidade nas uvas do Porto Santo para produzir vinhos de mesa

Os viticultores madeirenses encontraram nas uvas do Porto Santo apetência para produzir vinho de mesa, o que fez com que a intenção de processamento de uvas daquela ilha tenha quase duplicado face ao valor registado no ano passado.

Segundo explicou a presidente do Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira (IVBAM), Paula Jardim, em entrevista à agência Lusa, só no ano passado é que os operadores económicos manifestaram interesse em desenvolver vinhos tranquilos (vulgarmente conhecidos como vinhos de mesa) com as castas porto-santenses Caracol e Listrão.

Estas castas atingiram este ano um valor que ronda os quatro euros por quilograma, sendo atualmente a uva mais cara do país.

“Porque, no fundo, há uma apetência para a criação destes vinhos tranquilos e a quantidade de uvas também não é assim tão grande. Há mais procura do que oferta da matéria-prima”, justificou Paula Jardim.

E o processamento esperado de uvas, numa vindima que ainda não acabou, supera em quase o dobro o valor registado no ano passado.

Em 2021, “foram processadas 26 toneladas de uvas para Vinho Madeira e vinho tranquilo”, sendo que este ano as intenções registadas ascendem às 46 toneladas de uvas, indicou a presidente do IVBAM.

Este ano “continua a haver um interesse muito grande” nestas uvas e uma das empresas que começou a produzir vinho tranquilo com uva porto-santense, a Profetas e Villões, construiu uma pequena adega na ilha ‘dourada’, que permite que as uvas possam lá ser processadas e não tenham de ser transportadas para a Madeira.

“São duas castas diferentes, o ‘terroir’ do Porto Santo é diferente do nosso, são solos arenosos, com pH’s elevados, completamente diferentes dos da Madeira. Todo esse ‘terroir’ dá umas características diferenciadoras à uva e, consequentemente, ao vinho”, salientou.

As uvas processadas no ano passado no Porto Santo para fazer vinho foram essencialmente para o Vinho Madeira, mundialmente conhecido e o predominante no arquipélago.

Mas, entre as uvas que ainda serão processadas este ano no Porto Santo, apesar de os dados não estarem fechados, Paula Jardim acredita que o seu destino possa ser maioritariamente para produzir vinhos de mesa.

Na ilha ‘dourada’, existem atualmente 62 produtores e 14 hectares de vinha com a direito a denominação de origem e indicação geográfica. Há ainda 20 hectares sem esses direitos.

Este ano, o IVBAM autorizou a instalação de novas vinhas das castas Caracol, Listrão e Moscatel Graúdo em mais 1,6 hectares de terreno e foram autorizadas replantação em 1,1 hectares.

“No fundo, há um interesse comercial para a produção do vinho e os viticultores vão, de certa maneira, desenvolvendo novas instalações de cultura e reconvertendo vinhas antigas sem interesse comercial para vinhas de interesse comercial”, explicou a presidente do Instituto do Vinho.

No arquipélago da Madeira, estão inscritos para a vindima a decorrer 2.150 produtores. Na região autónoma, existem 680 hectares de produção de vinha, dos quais 410 têm direito a denominação de origem e identificação geográfica.

As expectativas para esta vindima são semelhantes às do ano passado, sendo por isso expectável a produção de cerca 3.600 toneladas de Vinho Madeira.

“Pode haver um pequeno decréscimo na produção, por causa das condições climáticas”, admitiu Paula Jardim, mas garantindo que “não é penalizador para o setor”.


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