Preços dos alimentos estão a subir mais em Portugal do que na zona euro

Apesar de a taxa de inflação portuguesa ter fechado 2022 a um nível relativamente próximo do da zona euro, existem diferenças nas variações muito significativas, com os alimentos em destaque.

Dos dez bens e serviços em que a subida de preços registada em Portugal no último ano foi maior, quando comparada com o resto da zona euro, oito são produtos alimentares. Um sinal do papel de destaque que os alimentos estão a desempenhar na crise inflacionista que vive o país, um fenómeno que é explicado pelos responsáveis do sector e da distribuição com o custo de ter de transportar muitos dos bens consumidos e com os preços “historicamente baixos”, à partida, de alguns produtos.

Quando se compara, bem por bem e serviço por serviço, a forma como os preços evoluíram ao longo de 2022 em Portugal e no resto da zona euro, é possível verificar que, apesar de a taxa de inflação harmonizada portuguesa em Dezembro (9,8%) ter ficado a um nível relativamente próximo do da zona euro (9,2%), existem diferenças nas variações em vários preços específicos que são muito significativas.

De acordo com o Eurostat, em cerca de duas dezenas de bens e serviços registou-se uma subida de preços em Portugal que ficou mais de 10 pontos percentuais acima da verificada na zona euro. E no pólo oposto, houve nove bens e serviços em que a inflação portuguesa foi mais de 10 pontos inferior à da zona euro.

O produto onde a diferença foi maior é o gás natural, que em Portugal, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), disparou no mês de Novembro, mantendo uma inflação homóloga de 143,2% em Dezembro, contra os 51,9% da zona euro.

Mas, para além disso, o que se nota na lista de bens e serviços em que a inflação é bem mais alta do que na zona euro é a predominância dos produtos alimentares. Ovos, com uma inflação de 53,1% em Portugal e de 23,9% na zona euro, são o segundo na lista.

O leite fresco, a fruta em conserva, comida de bebé, carne de porco, açúcar, legumes e arroz são outros dos bens alimentares que estão na lista dos 15 bens em que a escalada de preços se fez sentir com mais força em Portugal do que nos parceiros da zona euro.

Nos produtos onde acontece o oposto, destacam-se sobretudo os energéticos. Com a excepção do gás natural, os preços da energia em Portugal, apesar de subir bastante durante o último ano, não subiu tanto como na zona euro. Dois exemplos: a subida de preços do carvão foi de 27,8% em Portugal e de 66,3% na zona euro; e nos combustíveis líquidos a inflação em Portugal foi de 21%, enquanto na zona euro foi de 42,9%.

Os responsáveis contactados pelo PÚBLICO – confederações de agricultores, associação dos retalhistas alimentares e Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP) do Ministério da Agricultura – apresentam várias explicações para o facto de os preços em muitos alimentos terem subido em 2022 bastante mais do que no resto da zona euro.

A mais frequente está relacionada com o facto de Portugal estar na periferia da Europa e por isso mais distante de alguns dos fornecedores internacionais. Isto faz com que o peso do custo dos transportes na formação do preço total dos bens seja maior, algo que é particularmente relevante para os bens importados ou que tenham uma componente importada bastante elevada, como acontece frequentemente nos bens alimentares consumidos em Portugal.

“Como é que se fazem ovos ou se criam porcos? É dando-lhes de comer com rações e tendo energia para os aquecer, transporte e, no caso da carne de porco, para a refrigeração da carne”, começa por explicar Luís Mira. “Energia e comida são, se calhar, 90% do custo – é tudo”, afirma o secretário-geral da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal, para resumir porque é que os preços de certos bens agrícolas subiram tanto de preço no último ano no país. E, por isso, o desfecho é claro: “os preços só podem vir a descer se a razão pela qual eles sobem também descer, que é energia versus rações”.

“Os aumentos de todos os custos de produção foram de tal ordem que se tornaram insustentáveis”, concorda Idalino Leão. E “obrigou que os preços fossem corrigidos num curto espaço de tempo”, afirma o presidente da Confagri – Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal.

Para Gonçalo Lobo Xavier, a disparidade de subida de preços entre Portugal e a média dos países da zona euro “assenta num conjunto de factores relacionados com a produção, indústria e transporte”. Salienta contudo o director-geral da APED – Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição “que a produção nacional tem um enquadramento diferente de outros Estados-membros da União Europeia, nomeadamente na questão do preço dos fertilizantes, no acesso aos cereais [dos quais é dependente, em alguns casos, em mais de 90%], nos custos energéticos, de combustíveis fósseis e transporte e nos custos das embalagens”. Este último encargo, do “transporte […]

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